Crítica: Moxie – Quando as Garotas Vão à Luta

Crítica: Moxie – Quando as Garotas Vão à Luta

“Como as mulheres são retratadas?”, pergunta o professor à classe sobre O Grande Gatsby, um livro clássico de “mais um velho branco”. Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta não foi concebido por um homem, mas pode estar sujeito ao mesmo tipo de escrutínio dependendo da perspectiva adotada. “Como as garotas são retratadas?”, alguém poderia perguntar. 

O filme de Amy Poehler surge num contexto delicado, em que alegações de assédio ressoam por toda a indústria cinematográfica e outros meios, e firma um compromisso com a representação de seu jovem elenco. Nestes termos, Moxie é um sucesso ao incorporar ideias de interseccionalidade, não se limitando apenas ao feminismo branco para explorar as discussões levantadas. 

Em Moxie, Vivian (Hadley Robinson) é uma garota nos meados do Ensino Médio que, junto de sua melhor amiga Claudia (Lauren Tsai), não faz muito o tipo que gosta de holofotes. Mas quando surge na internet uma rude lista elegendo as garotas do colégio de forma sexista, ela logo reage e acaba criando um fenômeno: a zine feminista Moxie, que faz contrapontos efervescentes ao machismo no local.

A iniciativa de Vivian traz novas amigas e o interesse cativo de um dos garotos que com ela estudam, mas acaba ameaçando a velha amizade com Claudia, que é mais tímida e culturalmente mais recatada. Este é um elemento que parece óbvio por um tempo, mas que felizmente assume novas cores com o passar do longa, justamente por conta daquela mesma interseccionalidade.

Mesmo partindo do ponto de vista de uma garota branca de classe média, Moxie encontra espaço para garotas negras, latinas e asiáticas em papéis de quase-protagonismo, relevantes ao andamento do longa. Cria-se a partir delas esse senso interseccional que o roteiro de Tamara Chestna e Dylan Meyer (adaptando o livro de Jennifer Mathieu) felizmente tem, apesar de não fugir muito de outros clichês de filmes do gênero. 

Clichês estes que surgem na forma de um romance meio comportado e óbvio, a não ser pelo instante em que flertam dentro de uma casa funerária, um momento totalmente equivocado que Poehler deve ter confundido com charme peculiar. “Como os garotos são retratados?”, poderiam perguntar, e a resposta seria “da forma mais genérica possível”. 

Inclusive, perde-se a oportunidade de levantar discussões a níveis mais ambiciosos quando Moxie (o filme) escolhe um único personagem valentão para despejar toda a vilania, criando um antagonista concreto demais para um problema simples de menos. Apesar de alguns esboços tímidos de um comentário mais geral, não se questiona muito a responsabilidade que todo homem tem na discussão. 

Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta é um bom filme, com instantes nos quais Poehler experimenta truques sofisticados (o plano longo na festa é um exemplo), mas não consegue ser muito mais do que isso. Não existe, aliás, construção de momentum para sua grande cena triunfal, o que deixa o ato final do longa corrido e um tanto quanto murcho. As intenções são das mais nobres, pelo menos.

Disponível na Netflix.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.