Crítica: Maligno

Crítica: Maligno

Maligno, novo filme do cineasta James Wan, está fadado a causar reações fortes no público. Basta uma breve espiada em redes como o Letterboxd para constatar a divisa entre o amor e o ódio que cercam o longa, praticamente todos consternados (no bom e no mau sentido) com a audácia de sua proposta e sua atitude completamente desavergonhada. Para alguns, sobra o choque positivo. Para outros, o riso involuntário. Não parecem haver meios termos. 

Neste cenário, seria irresistível tentar classificar Maligno como uma farofa de gêneros e subgêneros. A obra navega com agilidade através de diferentes premissas, ou melhor, uma única premissa que evolui de forma constante. Ao invés de poréns, cada curva introduz um “sim, e” em resposta à ideia anterior, potencializando cada vez mais a loucura das circunstâncias. Desde o início, o longa assume essa trajetória ascendente.

É extremamente desafiador descrever os elementos mais simples da trama sem sequer sugestionar algumas de suas surpresas, e qualquer detalhe já é demais. Minha dica: veja este filme sabendo o mínimo possível. Há tempos não me deparava com um projeto de gênero tão sedutor em suas possibilidades, e igualmente tão desconcertante em suas escolhas. Embora o que ocorra na “fita” seja crucial para fixar essa impressão, o COMO importa ainda mais.

Wan, que trilhou seu caminho por obras de estilos e orçamentos variados, passando por projetos extremamente baratos como Jogos Mortais a blockbusters de ação como Aquaman, aqui exercita todos os seus músculos em uma variedade de situações, tudo enquanto mantém o resultado suficiente uniforme para garantir solidez ao todo. É impressionante quanto solo o cineasta cobre em um único filme, e isso atiça a curiosidade para outros futuros projetos feitos com “carta branca”.

Sinceramente, não há muito mais o que dizer sem estragar parte da graça que Maligno tem aos montes, mas digo aqui que a atriz Annabelle Wallis, que estrelou alguns filmes enfadonhos como A Múmia (2017) e Annabelle (2014), se mostra uma intérprete muito mais forte que o imaginado, carregando certas cenas com um sucesso invejável – cenas que outras artistas menos sintonizadas com as necessidades do cinema de gênero poderiam sabotar com um certo medo do ridículo. 

Se este é o filme que Wan escolheu fazer “para ele mesmo”, como as histórias parecem sugerir, que venham mais! Esta é realmente uma bela homenagem às fitas que todos já tivemos curiosidade de ver mas talvez não a falta de vergonha de escolher nas idas às videolocadoras, em tempos agora tão distantes. Ame ou odeie, Maligno merece ser abraçado por um público que o cultue, como prova de que o terror ainda tem longas pernas enquanto as ideias – e a liberdade para executá-las – não acabarem.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.