Crítica: Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo

Crítica: Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo

A melancolia da nostalgia

Imagem do filme 'Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo!'

Lá se passaram dez anos desde o lançamento de Mamma Mia! (2008). À época, o filme foi um enorme sucesso de bilheteria mundialmente, instigando o interesse de ávidos do gênero musical, além de conquistar os corações dos espectadores com uma comédia romântica banhada em águas gregas e canções do grupo pop sueco ABBA. Sua continuação, Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo, é um repeteco do filme de 2008 – com um toque a mais de nostalgia.

No mais recente, vemos a história ser contada em dois tempos: no presente, Sophie (Amanda Seyfried) está prestes a reinaugurar o hotel de sua mãe, Donna (Meryl Streep) – morta há um ano. E, para a grande festa, estão convidados seus três pais, Sam (Pierce Brosnan), Bill (Stellan Skarsgard) e Harry (Colin Firth), além das melhores amigas de Donna, Tanya (Christine Baranski) e Rosie (Julie Walters). Sophie, nervosa com a reinauguração, e chateada pelos problemas de seu relacionamento com Sky (Dominic Cooper), relembra a trajetória da mãe. Em paralelo somos levados ao ano de 1979, quando, logo após a formatura, a jovem Donna (Lily James) resolve viajar pelo mundo, a procura de seu lugar.

Houve uma mudança na cadeira de diretor. Se o primeiro ficou a cargo de Phyllida Lloyd (A Dama de Ferro), agora está nas mãos de Ol Parker, roteirista dos filmes O Exótico Hotel Marigold, de 2011 e 2015. Apesar da mudança, Parker aposta nas mesmas fichas que sua antecessora, apenas expandindo o elenco, com as versões jovens de alguns dos personagens centrais.

Neste filme, talhado para toda a família assistir – afinal, este é um filme sobre uma grande família – , o roteiro segue a agenda, e vai por caminhos previstos. Essa previsibilidade se dá por todo o filme; não há surpresas. Tanto que é possível antecipar certos diálogos das personagens – assim como as transições na montagem que balançam entre o passado e o presente.

Pela visão de Ol Parker (também roteirista), uma escolha no enredo acabou por definir boa parte do tom do filme: um pouco mais melancólico. A morte de Donna – que, ao lado de Sophie, protagonizou o primeiro filme – já implica uma sensação de nostalgia, um sentimento de saudade. Ajudou para isso, a ótima performance (de voz, incluso) de Meryl Streep. Assim, um filme naturalmente solar (como as costas gregas), fica um pouco nebuloso. Apenas a canção ‘Dancing Queen’ – maior hit da carreira do ABBA – seria capaz, como foi, de abrir o tempo. Tanto que a partir da performance – com grande parte do elenco – , o filme flui mais vibrante até o final.

A fotografia de Robert Yeoman segue protocolos, ainda mais pensando em musicais. Todavia, vale ressaltar alguns desperdícios em certos momentos, principalmente quando fecha-se muito nos rostos dos atores, os chamados “big close-ups”. Assim, o longa parece por vezes esquecer da máxima que não se canta apenas com a face, mas com todo o corpo, ainda mais torso e braços (um exemplo é a performance de Marion Cotillard em Piaf – Um Hino ao Amor).

Algumas canções, como a música-título, ‘Waterloo’, ‘The Name Of The Game’ e ‘Super Trouper’ retornam em Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo, mas na maior parte, temos outras músicas do ABBA, que não deram as caras no filme de 2008.

Do elenco, na linha do presente, se destacam Amanda Seyfried e seu timbre de canário; as divertidas Christine Baranski e Julie Walters; e Colin Firth, de carisma e timing cômico aguçado. Mas é a corrente de novos ventos do elenco jovem que traz um certo frescor, mais capaz de instigar o espectador, com destaque para o trio de atrizes Lily James, Jessica Keenan Wynn e Alexa Davies. As três interpretam, respectivamente, as versões mais jovens de Donna, Tanya e Rosie, conseguindo emular bem e de maneira cativante os trejeitos instituídos pelas atrizes originais.

Aos apaixonados e convertidos pelo antecessor, Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo provavelmente será um deleite. Já aos que pouco se empolgaram com o original, certamente este não fará diferente.

Alexis Thunderduck