Crítica: Manifesto
Com um cenário atual em que o significado de arte é amplamente discutido no Brasil, Manifesto não poderia ter escolhido um momento tão pertinente para ser lançado em nosso país. Dirigido por Julian Rosefeldt e estrelado por Cate Blanchett, o filme traz textos de arte sendo interpretados de 13 formas diferentes pela atriz. O modernismo, dadaísmo, futurismo, Fluxus, Dogma 95 (que teve Lars Von Trier como um dos autores), são apenas alguns dos movimentos abordados durante o filme.
Diferente do padrão, Manifesto não tem um roteiro. Não há ação central, não há explicação e há conexão. É como se Cate Blanchett desse vida à diferentes textos, com 12 personagens e nuances diferentes. Sempre impecável e magistral, a atriz, vencedora de dois Oscar, consegue encarnar de um exagerado mendigo até uma descontraída apresentadora de TV.
Entre as outras personagens, estão: uma coreógrafa, uma punk, uma professora de escola infantil, uma cientista, uma funcionária da bolsa de valores, uma artista, um titereiro (manipulador de marionetes), uma trabalhadora de fábrica e uma mulher em um velório. Tais personagens não têm conexão, e os textos escolhidos para cada um também não.
O filme não pertence a uma sala de cinema. Ele pertence a museus de arte, onde as pessoas podem entender e sentir o impacto da obra e a discussão que ela traz consigo. Como o filme não tem uma ligação com o todo – e que, para o público leigo e desavisado, será uma hora e meia sem compreensão de nada -, ele não é feito para todos. Apesar de interessante e com uma discussão pertinente, o ritmo não embala e o tom monótono não muda.
Apesar disso, a fotografia e direção são impecáveis. O diretor faz uso constante do plongée, que é quando se filma a cena de cima, mostrando todo o ambiente. O ritmo do filme é sempre lento, tanto que em determinada cena em que os alunos de Cate estão brincando, a câmera lenta é utilizada.
A atuação de Cate é magistral. Ela consegue capturar o estilo requerido em cada um dos personagens, entrega a entonação necessária, os gestos e os olhares perfeitos para cada cena.
Como Cate conta em um de seus discursos, “a arte conceitual é boa quando a ideia é boa”. Em Manifesto, a ideia é boa, mas a execução pode confundir os desavisados de que este é um filme sobre arte, e não uma experiência à la Orphan Black estrelando ninguém menos que… Cate Blanchett.