Crítica: Mentes Sombrias

Crítica: Mentes Sombrias

Sedento por começar uma nova franquia, filme esquece de fazer sentido sozinho

Imagem do filme 'Mentes Sombrias'

Há cerca de seis anos, quando o primeiro Jogos Vorazes estreou nos cinemas, Hollywood parecia ter encontrado sua nova fórmula de ouro: as chamadas “distopias adolescentes”, adaptações de livros de ficção-científica sobre jovens se rebelando contra um sistema opressor. No embalo da franquia estrelada por Jennifer Lawrence vieram produções como Maze Runner e Divergente – esta uma saga de fôlego tão curto que sua conclusão ganhará apenas o formato de um telefilme, adiado por tempo indeterminado. Prova de que a moda durou pouco.

Com o cenário apontando para uma fadiga do público, este Mentes Sombrias simplesmente não tem nada a acrescentar, exceto por ficar com o “título” de longa mais fraco do gênero. Adaptado do livro escrito por Alexandra Brecken que deu origem a uma série de cinco romances, o filme cai na armadilha de tentar ser o capítulo inicial de uma franquia, mas não se preocupa em fazer sentido sozinho. Ao final da sessão, fica a sensação de uma trama incompleta e superficial, sem elementos fortes o suficiente para conquistar uma base de fãs dispostos a esperar por uma continuação.

A história se passa numa realidade onde adolescentes passam a sofrer de um distúrbio letal, que mata 90% da população jovem mundial. Não se sabe mais detalhes sobre isso, apenas que os sobreviventes têm em comum algum tipo de poder paranormal e, por isso, são mandados a um campo de concentração. Lá, eles são divididos e separados em cores, conforme a ameaça que seus dons representam: a super inteligência, representada pelo verde, é a mais amena, enquanto os laranjas são máquinas mortíferas em potencial, capazes de controlar pensamentos. Para as autoridades, quem for deste último grupo deve ser exterminado imediatamente.

Rubi (Amandla Stenberg, de Tudo e Todas as Coisas) é a protagonista, uma garota “laranja” que consegue se disfarçar por seis anos, até sua verdadeira capacidade ser descoberta. Ela foge das mãos do governo com a ajuda de uma médica (Mandy Moore), integrante da misteriosa Liga, organização que reúne jovens fugitivos, mas acaba encontrando um porto seguro apenas quando se junta aos desertores Zu (Miya Cech), Bolota (Skylan Brooks) e Liam (Harris Dickinson).

Sabemos muito pouco sobre Rubi para chamá-la de heroína. Ao contrário de uma Katniss Everdeen, por exemplo, não há pistas sobre seus valores, origens ou qualquer outra coisa que nos faça ver nela algo além de uma adolescente assustada em fuga. Essa falta de profundidade é um traço constante em todos os personagens, evidência de que os produtores apostaram alto em construir este embasamento ao longo de possíveis próximos filmes ao invés de desenvolver relações mais sólidas no primeiro. O desperdício chega a ser enervante em casos como o de Gwendoline Christie (a Brienne, de Game of Thrones), que aparece no maior estilo badass como a mercenária Lady Jane e é descartada rapidamente.

As cenas de ação e efeitos especiais conduzidas pela diretora Jennifer Yuh Nelson também são genéricas, ainda mais se levarmos em conta que ver gente levitando, explosões e pancadaria já não é novidade há muito tempo nas grandes produções norte-americanas. Sem inspiração para criar algo que a destaque entre seus antecessores, é provável que as adaptações para cinema da aventura arquitetada por Alexandra Brecken pare por aqui. A quem, por acaso, se interessar pelo destino de Rubi e seus amigos, resta esperar que a editora Intrínseca, que acaba de lançar o livro original no Brasil, publique suas continuações.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil