Crítica: O Protetor 2

Crítica: O Protetor 2

Fuqua, o praticante muscular

Imagem do filme 'O Protetor 2'

Quatro anos após O Protetor (2014), encontramos Denzel Washington em uma situação inédita na carreira. Pela primeira vez o ator ganhador de dois Oscars – coadjuvante por Tempo de Glória e melhor ator por Dia de Treinamento – protagoniza uma sequência de um de seus filmes. Para isso, deve ter ajudado que Antoine Fuqua também está de volta. O mais recente capítulo desta cinessérie – baseada em uma série de TV popular nos anos 80 – é a quarta parceria entre ator e diretor, que acabou por ser produtiva, pois O Protetor 2 se sai melhor que o antecessor.

No filme, seguimos acompanhando os dias de Robert McCall (Denzel Washington) que trabalha como motorista e ajuda as pessoas que julga necessitadas e merecedoras, até saber que Susan Plummer (Melissa Leo), ex-agente da CIA e melhor amiga, foi assassinada. Agora, Robert não irá descansar enquanto não fizer justiça pela morte dela.

Interessante analisar a filmografia irregular do cineasta Antoine Fuqua. São doze longas-metragens, entre eles, alguns abaixo da média (Rei Arthur, Invasão à Casa Branca, Nocaute), irregulares (O Protetor), bons (Atirador, Sete Homens e Um Destino), sendo apenas um destes de maior destaque positivo, Dia de Treinamento – sua primeira parceria com Washington. Não é coincidência que o filme de 2001 seja visto como exceção na lista de trabalhos de Fuqua. Certamente, o roteiro de bom tratamento e fluente interlocução ajudou muito – além de performances vibrantes, não apenas do protagonista, mas também de Ethan Hawke. Esta é a chave que separa Dia de Treinamento dos outros projetos do diretor: Fuqua é um autor do tipo praticante muscular, que faz um cinema de vigor, de maior força.

O Protetor 2, assim como a grande parte de seus filmes, não prega pela delicadeza ou sutilezas. Não. O diretor de 52 anos trabalha na mão pesada, sem dó. Este fator é o que leva a muitos julgarem-no como um cineasta de uma nota só, e talvez seja demasiadamente complicado não aderirmos a tal ideia. Contudo, uma reserva: se é possível afirmar que a filmografia de Fuqua é inconstante, paradoxalmente, esta mesma apresenta narrativa perceptivelmente sedimentada.

Definir o termo ‘mão pesada’ como uma debilidade é algo simplista. Para esta expressão, existe contexto, e dentro do próprio cinema de Antoine Fuqua. Os momentos onde a mão do autor se encontra de maneira desarmônica, apontam em filmes como Nocaute, por exemplo, onde este cinema muscular acabou por desperdiçar uma melhor captura na performance – das mais nuançadas – de Jake Gyllenhaal (um exercício prático para notarmos diferenciações pode ser visto em um comparativo com as cenas finais de luta no filme de Fuqua, e Ali, de Michael Mann).

Já em O Protetor 2, esta musculatura fica em harmonia. Se o roteiro sofre do mesmo problema que o filme original de ser muito derivativo, a direção – isso inclui outra ótima performance de Denzel Washington – mostra-se segura. E até mesmo bem desavergonhada em seus muito bem-vindos excessos nos trinta minutos finais. Coopera bastante para isso a trilha sonora manipuladamente tensa de Harry Gregson-Williams e Guy B. Duhon Jr. A mudança de cinematografista – sai Mauro Fiore, entra Oliver Wood – também trouxe algumas melhorias, principalmente na hora da ação.

Se Antoine Fuqua é apenas uma dieta à base de carboidratos (energética), que esta se faça valer. O cineasta parece definido: faz filmes no século XXI para o público do século XXI – principalmente aqueles que admiram machezas façanhas. Pensando em Fuqua e sua carreira, este tipo de cinema pode ser coeso, e mais que o suficiente.

Alexis Thunderduck