Crítica: O Destino de uma Nação

Crítica: O Destino de uma Nação

Gary Oldman brilha em atuação arrebatadora e cheia de nuances

Cada diretor tem sua peculiaridade. No caso de Joe Wright (de Orgulho e Preconceito, Anna Karenina, Desejo e Reparação), sua grande habilidade é a de fazer filmes de época; e a melhor parte é que ele consegue criar uma atmosfera interessante e que prende do início ao fim, seja com sua maneira de filmar ou com o que consegue tirar de seu elenco.

Em O Destino de Uma Nação, que conta com Gary Oldman no front de mais uma história de época e baseada em fatos, todos os elementos citados se encontram de forma harmoniosa. Wright segue o caminho tradicional de uma história biográfica (como a jornada repleta de empecilhos que, em seu fim, encontra a redenção), mas costura seu próprio elegante estilo ao longo do caminho.

Não é difícil notar a enorme dedicação que Oldman teve para interpretar o icônico Winston Churchill, Primeiro-Ministro do Reino Unido que entrou no poder durante a Segunda Guerra Mundial. O que já era difícil se tornou algo ainda pior: seu mandato começou justamente quando tropas nazistas cercavam os britânicos em Dunquerque, na França. As vidas dos milhares de soldados dependiam das ações de Churchill – que, de início, não tinha o apoio nem do próprio Rei. O Destino de Uma Nação retrata não só esse capítulo importantíssimo da História como também mostra, de maneira pessoal, como foi para o homem lidar com seus problemas internos e externos.

E é neste ponto em que vemos a grandiosidade da atuação de Oldman, que mesmo através de tanta maquiagem (que está excelente e digna de prêmios) consegue expressar de maneira nítida cada emoção a cada percalço. O único modo de lembrar que é Gary Oldman por trás de toda a caracterização se dá através de seus olhos, pois todo o modo de andar, falar e se expressar está completamente diferente de tudo o que já vimos em sua longa carreira.

O roteiro de Anthony McCarten (que escreve também o longa biográfico de Freddie Mercury) foca nos planos do governo e não na ação da Segunda Guerra, mas nem por isso deixa de mostrar um ambiente tão tenso quanto o da violência física. No decorrer da narrativa vemos uma guerra diferente: a guerra por trás da guerra, com a sensação de claustrofobia de Churchill se elevando cada vez mais. O modo como Wright dirige e Bruno Delbonnel comanda a fotografia tornam a sensação de enclausuramento ainda maior, dando ênfase nos conflitos internos do protagonista e rendendo cenas belíssimas, mesmo que angustiantes.

A atenção dada aos personagens secundários está longe de ser fraca, mas já era de se esperar que os holofotes ficassem o tempo todo no Winston de Oldman. Porém, Kristin Scott Thomas dá um bom toque de humor como Clementine Churchill, esposa do Primeiro-Ministro, enquanto Ben Mendelsohn entrega uma performance firme como o Rei George VI. Lily James, como a assistente Elizabeth Layton, pode ser considerada como o elemento que dá a Churchill um primeiro contato com o mundo real, fora de sua zona de conforto. Inclusive, uma das cenas que chegam a emocionar com facilidade se dá entre Layton e seu chefe.

O Destino de uma Nação poderia muito bem ser apenas mais um filme histórico biográfico – ou até mesmo um filme “feito para o Oscar”. Por escolher não apoiar-se apenas em seu protagonista para criar força dramática, mas sim contar com um roteiro bem feito e demarcado por ótimos diálogos, é gratificante ver que o longa foge do convencional e entrega uma ótima experiência tanto histórica quanto cinematográfica.

Barbara Demerov

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