Crítica: O Lobo de Wall Street
Sexo, drogas e festa. Misture esses três ingredientes e acrescente duas colheres de comédia. Coloque no forno por três horas e aproveite o resultado. Essa é a receita do chef nova-iorquino, Martin Scorsese, para o seu filme O Lobo de Wall Street (2013), que arrancou elogios da crítica por conta do estilo politicamente incorreto e insano da história. Apertem os cintos! Scorsese na direção!
O Lobo de Wall Street conta a história real de Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), um corretor de ações que foi preso nos anos 90 por conta do seu envolvimento em um grande caso de fraude e corrupção, nos Estados Unidos. A vida de Belfort é contada ao longo das três horas do filme pelo próprio protagonista da história. É ele quem nos fala sobre suas atitudes desde seu primeiro emprego em Wall Street até a inevitável prisão. Esse modo de narrar o filme foi um acerto de Scorsese, afinal Belfort é um vendedor, um cara de lábia, e ninguém melhor do que ele mesmo para nos dar uma palestra sobre sua vida. Ninguém melhor do que o próprio Belfort para nos vender a sua vida. E nós, seduzidos por suas palavras, ouvimos, compramos e gostamos também.
Afinal, como não gostar? O longa lembra alguns filmes e até algumas séries que fazem e fizeram grande sucesso. Para citar um exemplo, é como se um roteirista tivesse a ideia de misturar Se Beber Não Case (2009, dir. Todd Phillips) e Breaking Bad em um único filme. Imaginou o resultado? É uma produção recheada de drogas e sexo, sendo que na primeira cena já há uma mistura desses dois elementos. Além de fazer uso constante de palavrões. Perdi as contas de quantas vezes escutei a palavra fuck.
O filme conta com atuações incríveis. DiCaprio incorpora a insanidade do personagem e tem uma atuação excepcional – merecidamente premiada com o Globo de Ouro de melhor ator. Ele é o dono do filme e protagoniza cenas hilárias ao lado de Jonah Hill, que é um ótimo coadjuvante. DiCaprio, sem dúvidas, escolhe bem seus papéis e com quem trabalha. Soube direcionar sua carreira de ator após Titanic e não se deixou associar ao status de galã. De lá pra cá o ator já foi dirigido por grandes nomes como Christopher Nolan, Quentin Tarantino, Ridley Scott e, claro, Scorsese.
A trilha sonora é magnifica e contém músicas escolhidas a dedo para injetar ainda mais loucura a tudo que se vê. As três horas de duração fazem com que, em algumas cenas mais paradas, o cansaço venha nos dar o ar da graça. Sensação essa que não dura muito tempo, pois sempre depois dessas ‘pausas’ vem uma sequência de insanidades para nos fazer rir e pescar de volta nossa atenção. Ao mesmo tempo, Terence Winter, responsável pela adaptação do roteiro, consegue criar diálogos que se desenvolvem naturalmente.
O Lobo de Wall Street é um grande deboche ao modo de viver de Belfort e todos seus amigos corretores. Um enorme e insano deboche. Infelizmente, nem todos que assistem ao filme entendem a ironia do diretor: após ser exibido na Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, vários membros classificaram o filme como “nojento”, “vergonhoso” e disseram que o diretor estava endeusando ou fazendo apologia àquilo tudo. Ainda bem que Scorsese, no auge dos seus 75 anos, não liga muito para isso e ainda é ousado o bastante para bater na mesa e mostrar como se faz um ótimo filme.