Crítica: O Rei do Show
Um musical que segue a etiqueta hollywoodiana. E só.
Amplamente divulgado como o filme natalino de 2017, O Rei do Show conta a história de P. T. Barnum, conhecido por ser um dos primeiros empresários do ramo do entretenimento. Com o carismático Hugh Jackman exibindo mais uma vez seus dotes teatrais e musicais como Barnum, é quase possível esquecer que, na verdade, o grande showman nada mais era que um explorador de pessoas rejeitadas pela sociedade. Quase.
Ao romantizar a história de Barnum desde cedo, realçando a estrutura do American Dream com todos os desafios vividos até o alcance do sucesso, O Rei do Show tropeça em sua própria ambição: a de dar voz aos injustiçados. Os poucos personagens que possuem algum tempo em tela não recebem o tratamento necessário para fazer jus ao que a história, em teoria, representa. Se por um lado temos um leque de pessoas que representam preconceitos e problemas da sociedade, do outro só é possível ver todos à distância, sem envolvimento suficiente para cativar.
Hugh Jackman mais uma vez brilha com sua voz e técnica vinda dos palcos de Londres/Broadway e, assim como em Os Miseráveis (2012), sua força domina a tela durante os números musicais. Porém, no restante do tempo seu personagem perde força ao ser extremamente romantizado para passar mensagens de amor e superação – extremamente protocolares, por sinal. Com o roteiro focando apenas na grandiosidade de sua ideia de sucesso e diminuindo seus atos, tudo parece falso e distante.
Como a esposa de Barnum, Michelle Williams não possui grandes momentos a não ser os que canta junto de Jackman, mas sua presença é importante para a humanização do showman. Zac Efron, voltando às raizes de High School Musical, surpreende como o jovem que abandona a riqueza para trabalhar com Barnum no circo. Zendaya, uma das poucas personagens do show que possuem o mínimo de desenvolvimento, rouba a cena em seus momentos musicais – principalmente quando se junta a Efron para apresentar a melhor cena musical do longa. Rebecca Ferguson é uma talentosa cantora de ópera cuja subtrama só faz piorar a imagem do protagonista, parecendo simplesmente jogada a fim de criar conflito, e depois completamente esquecida.
Infelizmente, até mesmo a apresentação de This Is Me (música indicada ao Globo de Ouro 2018) é prejudicada por conta da rapidez dos acontecimentos, que não proporciona tempo de convencer ou emocionar. Por isso, acredito que a trilha-sonora do longa funciona melhor separadamente.
A ideia de que todos possuem seu lugar no mundo e merecem um momento de brilho paira a todo o momento na narrativa, mas apenas em fragmentos, como se ela não fizesse parte da história. A questão da igualdade simplesmente não se encaixa mesmo com o equilíbrio do elenco e a “redenção” de Barnum, que não é nada crível após o nível de narcisismo apresentado ao longo do filme.
O primeiro trabalho de Michael Gracey como diretor deixa a desejar em vários aspectos, mas certamente fará com que os espectadores em busca de uma boa mensagem de fim de ano saiam felizes do cinema – por mais que a tal mensagem seja manipulada para dar a impressão de que o filme é mais importante do que você pensa.
Em meio a inúmeros clichês e músicas pop que soam anacrônicas dentro do visual do século 19, O Rei do Show não deixa de ser um espetáculo visual e musical, mas não possui qualidade narrativa necessária para se tornar um filme exemplar do gênero – tais como Chicago, Moulin Rouge e La La Land. Assim como as pessoas injustiçadas que o filme nos apresenta, um musical desse porte também merecia mais.
Um comentário em “Crítica: O Rei do Show”
Comentários estão encerrado.