Crítica: O Rei Leão

Crítica: O Rei Leão

Seduzindo pelo visual, porém limitando a personalidade

Critica O Rei Leão

Mesmo os que não se consideram tão fãs de O Rei Leão original reconhecem a importância da expressividade dos personagens e o fato de que a variedade de suas personalidades são o que complementam a história e emocionam o público. No remake de Jon Favreau temos um dos apelos visuais mais desafiadores já vistos, com impressionantes paisagens e detalhes quase palpáveis, porém que compromete muitas vezes a identidade de alguns de seus personagens, e portanto, o envolvimento que o público já criou com os leões e outros animais do reino desde o clássico de 1994.

Recontando a história que todos conhecemos tão bem, o enredo segue o pequeno leão Simba, que após ser exilado de seu reino, luta para amadurecer e lidar com seus problemas, para enfim poder voltar para casa e tomar o trono de seu tio usurpador.

No novo O Rei Leão, a exímia qualidade da animação é obviamente o maior ponto da obra. Para muitos, pode ser o suficiente se deliciar com um design ultra realista que, além de valorizar os enquadramentos do clássico, garante que a nostalgia respire livre durante quase 120 minutos de filme. Infelizmente, outra boa parte do público pode e irá se sentir insatisfeita, uma vez que o apreço realista da obra afeta drasticamente a personalidade de vários personagens, desde expressões faciais e corporais, até muitas das linhas de diálogo existentes no filme de 94, e aqui extinguidas pelo novo roteiro adaptado.

Quem menos sofre com isso são Timão e Pumba, que parecem ter tido suas características cômicas em seus visuais mantidas, e garantem uma fidelidade impressionante ao que já conhecemos. Ao contrário de ambos, é evidente o prejuízo das particularidades de personagens como Scar e Zazu. Sendo que o primeiro aparenta ter perdido boa parte de seu tom irônico, enquanto o segundo demonstra ser bem menos espontâneo e cômico quanto esperávamos.

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O próprio protagonismo de Simba é afetado pelo extremo realismo da animação. O olhar do leão e a forma como se coloca diante de situações de perigo, é quase a mesma que se coloca enquanto demonstra curiosidade sobre Rafiki, ou mesmo se diverte com Timão e Pumba. Se torna difícil a credibilidade narrativa, e muitas vezes deixamos de nós identificar com o sentimento dos personagens.

Inegavelmente, elementos como a potente e readaptada trilha musical de Hans Zimmer emocionam perfeitamente o público em seus devidos momentos, fazendo jus às suas próprias composições do clássico. As faixas musicais compostas por Elton John também agradam, e os novos intérpretes não decepcionam. O ritmo da direção, apesar de mudanças mínimas do roteiro, permanece o mesmo e não permite que a montagem se distancie do planejado.

Embora boa parte da emoção do filme seja abreviada por conta dos problemas aqui já citados, é extremamente divertido acompanhar a jornada de personagens queridos, e os diversos questionamentos sobre inveja e egoísmo de alguns personagens, além do gracioso apreço à humildade e sinceridade de outros. O Rei Leão emociona de sua maneira própria, mas muito aquém da forma como poderia emocionar, visto a posição que ocupa no coração de tantos fãs da Disney.

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João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.