Crítica: O Zoológico de Varsóvia
Não vou mentir: fui assistir O Zoológico de Varsóvia de olhos fechados, sem saber sobre o que se tratava. A única certeza que eu tinha era que ele era estrelado pela maravilhosa Jessica Chastain (Armas na Mesa) e sua personagem cuidava de um zoológico. Achava que ia me divertir e e assistir aquele tipo de filme que nos faz sentir bem depois, certo?
Eu não poderia estar mais errada, pois O Zoológico de Varsóvia, dirigido por Niki Caro, despedaçou meu coração em mil pedaços. A história é sobre nada menos que a invasão Alemã em Varsóvia, nos meados da Segunda Guerra Mundial, e conta a história real de Jan (Johan Heldenbergh) e Antonina Zabinski (Chastain), que cuidavam do Zoológico de Varsóvia e seus animais.
Lutz Heck (Daniel Brühl, de Capitão América: Guerra Civil) é um nazista “amigo” da família Zabinski, e está visivelmente interessado em Antonina. Após o Zoológico e todos seus animais serem destruídos brutalmente pelas bombas alemãs, Lutz se aproxima ainda mais da família como um “conforto” para Antonina e sua família. Por conta dessa amizade, Jan vira superintendente dos parques públicos em Varsóvia e, assim, recebe acesso ao “gueto de Varsóvia” (onde muitos judeus estavam em condições deploráveis) sempre que quiser.
Jan e Antonina começam, então, sua missão de salvar o máximo de judeus que conseguirem, os escondendo em seu zoológico e sua casa. O filme não coloca maquiagem em nenhuma das situações e lida com aspectos normalmente ignorados em filmes sobre nazismo, como o abuso sexual e o estresse pós-traumático das vítimas. A delicadeza de Antonina ao lidar com uma das primeiras vítimas que acolhem é de chorar; sentimos todas as emoções e parece que, sem querer, nos tornamos parte da família junto com todos os acolhidos. Jessica Chastain está fenomenal em seu papel. Podemos perceber o quanto o papel mexeu com ela e o quanto ela quis honrar a verdadeira Antonina Zabinski ao interpretá-la.
Gostaria de ter visto mais de Jan lidando com os sobreviventes, pois todo o encargo de conversar e recuperar as vítimas fica com Antonina e sua “maternidade” infinita, o que me incomoda um pouco no filme. Também senti falta de ver mais laços formados entre todas as pessoas acolhidas dentro do zoológico – afinal, eles ficaram meses vivendo juntos em condições muito difíceis e seria interessante aproveitar essas situações com a troca de diálogos entre eles, dando a impressão de que Antonina é a única capaz de salvá-los com suas palavras doces. O personagem de Lutz também fica um pouco de escanteio, e às vezes até nos esquecemos de seu propósito no filme além de aterrorizar e criar tensão em cenas importantes.
A fotografia do filme é suave e leve apesar da tragédia abominável que nos é transmitida, sendo um dos pontos que eu mais gostei. Nada parte do exagero e tudo é retratado de forma visceral. A trilha sonora não me marcou, já que as cenas que mais ficaram comigo foram as que não tinham som nenhum e que passavam as emoções dos personagens por inteiro, sem interrupções.
O Zoológico de Varsóvia não é sobre sofrimento, mas sim sobre o contato humano que precisamos para nos recuperar, juntos, de traumas impensáveis. É um filme sobre vitória e a tristeza que vem com ela. Conseguimos sobreviver a situações terríveis, mas a dor do que passamos estará sempre presente e não pode ser esquecida.