Crítica: Os Incríveis 2
Sequência de animação de 2004 consegue ser, além de nostálgica, tão dinâmica e cômica quanto o primeiro filme
Caro leitor, não vou mentir, tenho um imenso carinho por filmes da Pixar, principalmente pelo filme que antecede esse em questão. Alguns de nós lembramos com clareza de todas as cenas de Os Incríveis (2004), afinal esse era o filme perfeito para rever inúmeras vezes. E conforme assistia de novo e de novo, começava a perceber o porquê do filme ser uma das animações mais agradáveis e envolventes já feitas – e, inclusive, um dos melhores filmes de herói da história do cinema. É impressionante ver como o roteiro desenvolve bem a relação entre os membros de uma família pra lá de anormal que enfrenta os perigos mais improváveis, mas que também passa pelos mesmos perrengues de qualquer família.
As cenas de ação bem dirigidas, o ritmo frenético do roteiro, uma estrutura clássica bem definida em três atos e principalmente o humor calcado nos eventos cotidianos e na dificuldade de criar três filhos (um bebê, uma criança e uma adolescente), ainda dando conta de combater o crime, é o que mais me deixava apaixonado pelo filme de 2004. Mas a melhor parte é saber que tudo isso volta à sua melhor forma em Os Incríveis 2! Brad Bird, o gênio por trás do primeiro filme e sua sequência (além de diretor e roteirista de animações marcantes como O Gigante de Ferro (1999) e Ratatouille (2007)), mostra que sabe entregar todo seu talento para buscar, mesmo 14 anos depois, as mesmas deliciosas características de cada personagem, o dinamismo eficiente e novamente uma história bem cativante.
Neste segundo filme, Helena Pêra é chamada para voltar a lutar contra o crime como a super-heroína Mulher-Elástica, enquanto seu marido, Roberto, se vê diante da tarefa de cuidar das crianças, especialmente o bebê Zezé. O que ele não esperava era que o caçula da família também tivesse superpoderes, que surgem sem qualquer controle. Flecha continua aprontando e se divertindo o máximo que pode e da maneira mais rápida que consegue; já Violeta ainda luta contra os conflitos da adolescência e tenta reconquistar a atenção de Toninho Rodrigues. No meio disso tudo, um vilão misterioso chamado Hipnotizador ameaça a segurança da população e dos próprios heróis.
O roteiro de Brad Bird faz uma aposta arriscada, mas que em minha visão funciona. É mais importante manter os modelos de enredo do primeiro filme para garantir o público-fã, ou seria mais inteligente ser ousado e se atrever em uma nova forma de narrativa? Aparentemente, o diretor optou pela primeira opção. O filme tem sim uma nova aventura com novos personagens, uma presença maior da Mulher-Elástica evidenciando o empoderamento feminino, e a presença do homem (Sr. Incrível) tomando conta da casa e de seus filhos, o que traz atualidade, mas causa um certo distanciamento da união dos heróis na maior parte. O problema é que a história em si, os obstáculos e as armadilhas são muito semelhantes ao primeiro longa – uma jogada “fácil” que não demanda muito esforço, mas ainda assim, emociona e diverte com todos seus elementos e variação de gêneros como aventura, ação, comédia e até um pouco de suspense.
Sentimos um pouco falta do volume dramático visto antes, e não dá para esconder o fato de que algumas decisões da história pode decepcionar alguns, como a presença e importância de Flecha em Os Incríveis 2, que foi ofuscada em prol de um enfoque maior no arco de Violeta, personagem que no primeiro filme não teve tanto destaque quanto Flecha. Personagens secundários e divertidos como Gelado e Edna Mode não deixam de aparecer pra entreter os fãs, mas quem realmente recebe o maior número de cenas e tira o maior número de risadas da platéia é Zezé e o descobrimento de seus superpoderes.
Tecnicamente, o filme quase atinge a perfeição e deslumbre audiovisual novamente. Os Incríveis 2 conta com uma direção sábia, que explora a claustrofobia de quartos pequenos, a sensação de perigo diante de uma perseguição em alta velocidade, e a pura adrenalina em cenas de combate e fuga dos personagens. O magnífico e característico design de animação, mesmo depois de tanto tempo, ainda consegue impressionar com expressões faciais e composição de cores harmônicas em cenas aconchegantes e contrastantes para evidenciar os personagens em momentos de confronto. Os cortes da montagem prezam pela perfeita continuidade dos planos e ditam um ritmo apropriado para cara cena. O montador Stephen Schaffer cumpre seu papel com esmero, não deixando o espectador perdido/confuso com o espaço que se encontram personagens.
Por que não comentar sobre um dos elementos mais memoráveis, que inclusive ajudou diretamente no reconhecimento e qualidade do primeiro filme? Sim, a trilha musical orquestrada do experiente compositor Michael Giacchino. Os Incríveis (2004) possuía sem dúvidas uma das mais notáveis trilhas musicais/sonoras de uma animação. Aqui, vemos a permanência de algumas músicas levemente modificadas, a inclusão de outras novas faixas muito bem elaboradas, e a infeliz inserção de algumas músicas electropop que não casam com as cenas e com o restante das músicas originalmente compostas. Entretanto, é nostálgico e delicioso acompanhar os ritmos jazzísticos (que se mantém acelerados e envolventes) nas cenas.
Um misto de sensações é entregue ao espectador nessa mais que aguardada sequência. Nostalgia é a maior delas, e pessoalmente, acredito que valeu a pena a espera para me encantar com esses personagens tão queridos novamente. Os Incríveis 2 é simplesmente fantástico e, se minhas previsões estiverem certas, a animação deve lotar as salas de cinema – sendo adolescentes e adultos a maioria do público.
FICHA TÉCNICA
Direção e Roteiro: Brad Bird
Dubladores: Luiz Feier Motta, Márcia Coutinho, Bernardo Coutinho, Lina Mendes, Nádia Carvalho, Raul Gil, Otaviano Costa, Flávia Alessandra, Evaristo Costa
Produção: John Walker, Nicole Paradis Grindle
Música: Michael Giacchino
Montagem: Stephen Schaffer
Gênero: Aventura / Comédia
Duração: 118 min.