Crítica: Paddleton

Crítica: Paddleton

Os limites da amizade

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Quanto de fato nos importamos com nossas amizades? Faríamos o que fosse preciso para garantir que nossos companheiros estejam felizes e satisfeitos? Ou nos deixaríamos levar por nosso egoísmo em querer tê-los por perto? São algumas das discussões trazidas pela trama de Paddleton, novo filme original Netflix produzido pela Duplass Brothers Productions.

A história acompanha a amizade de dois vizinhos inseparáveis a partir do momento em que um deles, Michael (Mark Duplass), descobre que está com câncer terminal. É quando ambos embarcam em uma melancólica viagem de emoções. Ao mesmo tempo que tentam aproveitar o tempo que possuem se divertindo e fazendo o que gostam, sentem que o final está chegando. Permitindo que a onda de sentimentos diferentes tome conta da narrativa, e envolva o espectador em um misto de ternura e humor.

Como uma boa comédia dramática, a direção e o roteiro do filme dão o tom certo para a imersão do público diante da caracterização humorística dos personagens, enquanto tentam esconder suas dores e medo de viverem sem o outro. O roteiro traz à tona todas as dificuldades do processo de aceitação de Andy (Ray Romano) sem partir para exageros, ou convenções que os filmes de drama já tanto nos mostraram. Aqui, tudo é construído em cima de uma base delicada de realismo e naturalidade. Incluindo o gradativo amadurecimento de Michael perante a complicada situação.

Em momentos que o enredo aposta na identificação do público com os eventos passados por Michael e Andy, isso ocorre instantaneamente, mas sem toda profundidade com que poderia ocorrer caso houvesse um tempo maior de filme, ou uma bagagem maior do passado e vivência de ambos os personagens. Ainda assim, isso não é um grande problema, pois aqui tudo é elaborado para criar um “contraste harmônico” nas cenas. Enquanto os frequentes alívios cômicos puxam para o humor, a música e o próprio ritmo lento da montagem nos lembra, de maneira emocionante, o quão difícil é superar aquilo tudo.

Nos sentimos vivenciando exatamente o que os personagens estão sentindo, sem precisar de palavras ou um excesso de ações, bastando um olhar ou uma expressão. As belíssimas atuações de Mark Duplass e Ray Romano são um regalo a parte, assim como as cores pastéis e dessaturadas que banham os cenários internos e externos com desolação.

O filme homenageia o que há de mais humano em nossas atitudes, como de costumes nas obras da produtora. Cometemos erros, muitas vezes irreparáveis, porém apenas um verdadeiro amigo é capaz de nos perdoar por aquilo que a maioria das pessoas não perdoaria. Paddleton é um forte brinde à imprevisibilidade da vida, aos nossos impulsos emocionais, e principalmente, à amizade.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.