Crítica: Pela Janela
Magali Biff é o grande trunfo do drama nacional premiado
Pela Janela faz parte do projeto Sessão Vitrine Petrobras.
Estreia de Caroline Leone na direção de longas-metragens, Pela Janela foi exibido na 41ªMostra Internacional de Cinema em São Paulo e premiado em diversos outros festivais. O filme é simples, sem grandes viradas de roteiro ou conflitos, mas a atuação central de Magali Biff é uma força a ser reconhecida.
O enredo do longa acompanha Rosália, operária com mais de 60 anos idade que é demitida de seu emprego como montadora de aparelhos eletrônicos. A mulher então se vê em um vazio existencial, o qual o irmão Zé (Cacá Amaral) busca preencher ao levar a irmã em uma viagem de carro à Argentina. E o resto é exatamente o que se espera.
O caráter mundano da história escrita por Leone pode alienar alguns espectadores que esperam por algo mais “cinematográfico”. Nada de extraordinário ocorre na jornada de Rosália, ou melhor, nada que possamos perceber com facilidade do lado de fora. Felizmente, o rosto de Magali Biff comunica as emoções de sua personagens com extrema habilidade, nunca deixando de envolver.
Biff é certamente o pilar principal de Pela Janela, mas Amaral também entrega uma bela atuação como o irmão que inicialmente se vê forçado a cuidar de Rosália. Em sua integridade, o longa se desenrola de maneira quase voyeurística, como se estivéssemos observando esse momento específico na vida dos dois (o que traz um sentido a mais ao título).
Em solo argentino, diversas cenas transmitem com perfeição a incomunicabilidade entre Rosália e os locais, o que ironicamente rende alguns bons diálogos entre ela e uma moradora do prédio onde se hospedam. A protagonista pode não entender nada do que está sendo dito, mas com certeza há uma troca e um aprendizado em tais momentos, os quais não são tão bem comunicados ao público (propositalmente, talvez?).
A interação de Rosália e os espaços que conhece também é interessante em seu minimalismo, como nos trechos relacionados às Cataratas do Iguaçu (algo que é resgatado de maneira sensível nos segundos finais do filme). Há até uma (quase) quebra da quarta parede, quando Rosália/Magali é pega de surpresa por uma forte brisa ao admirar as cataratas, pondo um fim ao longo plano que acompanhava o momento. A beleza dessa “falha” está justamente no corte (a montagem também é de Leone) e no inesperado sorriso que surge em seu rosto, simbolizando o início de sua transformação emocional.
Ainda assim, Pela Janela é exatamente isso: uma experiência construída principalmente nas emoções projetadas pelo espectador, algo pode desafiar o público. Muito se comunica através das sutilezas da montagem e do roteiro, além do sensibilizado uso da câmera na mão. Em suma, Pela Janela é um verdadeiro tour de force para Magali Biff e uma estreia promissora de Caroline Leone na cadeira (itinerante) de diretora.
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