Pela Janela: entrevista com a atriz Magali Biff

Pela Janela: entrevista com a atriz Magali Biff

Premiada recentemente pelo 12º Fest Aruanda em Paraíba, Magali Biff embarcou em seu primeiro papel como protagonista no cinema em Pela Janela, dirigido por Caroline Leone. De grande experiência no teatro, Biff nos contou sobre os desafios e conquistas da transição para o cinema. Confira a entrevista abaixo.


Para você, sobre o que é o Pela Janela?

É a trajetória interior de uma mulher, que de repente, se vê sem chão. Tava acomodada, feliz, trabalhando no que ela gosta. É como se de repente puxassem o tapete dela e ela desabasse. Morresse mesmo. Quantas vezes a gente morre e quantas vezes a gente vai renascendo e quando a gente vê estamos de novo nos trilhos?

Você é uma atriz de grande experiência no teatro e em novelas. Como se deu o processo de compor seu primeiro papel central no cinema?

Eu tive um trabalho de imersão, primeiro na fábrica, de ficar um mês ali, aprendendo a trabalhar com os reatores, mexer com os fios e com o estanho derretido, e mimetizar o trabalho dos operários. Depois a gente teve uma ajuda do René Guerra, que fez a preparação de elenco. Nesse pouco de experiência no cinema eu percebi que a gente faz essa preparação na sala de ensaio, lemos o roteiro muitas vezes, mas a verdade da locação te exige muita coisa, e às vezes te dá uma rasteira e joga tudo aquilo que você ensaiou pro chão.

O enredo do longa é bem simples, mas sua execução é cheia de nuances. Quanto de Rosália veio do roteiro e quanto surgiu durante os ensaios e gravações?

Não acho que dá pra quantificar, como em 50%, 40%. A sensação que eu tive é que muita coisa acontecia na hora. Tinha muita coisa programada no ensaio que não podia acontecer, e tivemos que abrir mão. A realidade ali era outra coisa, e já tinha muita coisa gravada, então parecia que a personagem já tinha ela mesma se proclamado.

Muito de Pela Janela é construído ou sugerido em seu rosto e seu olhar. Quais as particularidades de se expressar para uma câmera e como se compara ao trabalho das expressões corporais no teatro?

É bem diferente. Requer um despojamento e uma consciência muito grande das linguagens. É uma delícia fazer cinema, porque você sabe que está fazendo outra coisa e se dispõe a fazer essa outra coisa. Faço muito teatro, tenho muita credibilidade no meio, e espero que com esses três filmes que fiz, Deserto, Açúcar e o Pela Janela, atingir essa mesma credibilidade no cinema. No teatro você pode imaginar a situação até certo ponto. O cinema não te permite fazer isso. Eu tava lá nas cataratas, com a ventania que trazia aquelas águas da Garganta do Diabo com a força de um tsunami. Não tinha visto as cataratas antes, e ficou tão bonito que a gente fez em take único. E eu fiquei realmente assustada.

Há momentos em que Rosália se encontra no meio de argentinos, sem entender sua língua mas ainda assim os compreendendo. Como foi dividir a cena com alguém que, teoricamente, não deveria entender?

A Caroline não faz o que o René fez, ela jogou a gente pros leões mesmo. Ela não explica nada, porque ela quer essa espontaneidade. Se ela explicasse muito pra gente e pra eles, ela perderia isso. Esse é o pensamento dela. E eu acredito que de certa maneira ela tá certa. Ela não quer que a gente trabalhe racionalmente a cena, não quer um nhenhenhen.

Com todo o reconhecimento do filme, como isso te motiva a seguir como atriz de cinema?

Adorei fazer cinema, esse tipo de cinema, que é completamente despojado, com câmera na mão, sem luz, que exige muito da gente como ator. Achei uma linguagem tão encantadora. E acho que de certa maneira os cineastas tinham um certo medo de mim. E o Guilherme Weber, que é meu amigo, rompeu essa bolha com o Deserto. A Caroline também encarou, até em como ela é ousada nesse tema da velhice e da classe operária. Então espero que outros cineastas tenham essa ousadia que eles tiveram, que se disponham a trabalhar com novas pessoas.


Confira também:

Crítica do filme Pela Janela

Entrevista com a diretora Caroline Leone

Entrevista com o ator Cacá Amaral


A estreia do filme está marcada para 18 de Janeiro.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.

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