Crítica: Quando as Luzes se Apagam

Crítica: Quando as Luzes se Apagam

Em 2013, quando o curta Lights Out foi lançado na web, muitos internautas (eu incluso) redescobriram a visceral sensação que o medo do escuro nos proporcionava na infância. Tratava-se de um conceito muito simples: luz apagada, o monstro está lá; luz acesa, está tudo muito bem. Esta ideia, a princípio, não era inédita (a infame comédia Papai Fantasma, com Bill Cosby, já havia explorado este conceito, com o fantasma titular aparecendo apenas com as luzes apagadas). No entanto, a direção criativa e econômica de David F. Sandberg tornou o curta-metragem em um pequeno clássico do gênero.

Com esta nova era de filmes de terror com baixo-orçamento e alta rentabilidade, era de se esperar que algum produtor tivesse a ideia de adaptar a obra para o cinema. Porém, essa transição pode ser muito mais complicada do que aparenta… Afinal uma única boa ideia não sustenta um filme todo. Alguns anos depois, o fraquíssimo trailer da versão cinematográfica era liberado, o que derrubou as expectativas de quem vos escreve.  Estava certo de que esta adaptação seria um grande equívoco.

Ledo engano. Produzida pelo já mestre do gênero James Wan e dirigida pelo próprio F. Sandberg, esta versão cinematográfica de Lights Out, aqui intituladaQuando as Luzes se Apagam, surpreende por sua tamanha eficiência em entregar o que as audiências esperam de um filme de terror: TERROR!

Mas esta não é a única surpresa, visto que o longa também traz uma boa dose de drama e personalidade aos seus personagens e sua história, apesar de sua curtíssima duração (pouco mais de 70 minutos, sem contar os créditos). Na história, Rebecca (Teresa Palmer) se vê forçada a encarar males do passado depois que seu irmão mais novo (Gabriel Bateman) começa a passar por misteriosos problemas em casa. A mãe dos dois, Sophie (Maria Bello), apresenta uma saúde mental agravante, constantemente conversando com uma sinistra amiga imaginária. Ou será que, ali na escuridão, esta amiga existe? Sem entregar mais detalhes, a história segue daqui em um ritmo incessante, sem sustos em falso ou diálogos expositórios em excesso.

Apesar de alguns detalhes mais tolos presentes na história, o roteiro de Eric Heisserer, somado à condução do elenco uniformemente ótimo, fazem com que o público esteja sempre engajado. Palmer, Bateman e Bello convencem como uma família em frangalhos, bastante expressivos na hora de refletir seus conflitos interiores. Alexander DiPersia, que interpreta o namorado de Rebecca, Bret, rouba algumas cenas como o beefcake bobão que na verdade é muito mais nobre e engenhoso do que aparenta.  Outro ponto alto do longa é a fotografia de Marc Spicer, que trabalha muito bem com sombras e silhuetas, dispensando maiores usos de CGI, o que confere uma veracidade maior às suas inúmeras cenas de tensão e ação. O diretor F. Sandberg também apresenta diversas soluções criativas para estas situações, o que faz com que a ideia nuclear do longa, portanto, sempre funcione, apesar da repetitividade.

Dito isso, há alguns problemas também. Como antes mencionado, alguns detalhes da mythos da entidade são bastante tolos, ameaçando prejudicar a tensão presente na trama. Além disso, a curta duração, apesar de conferir um ritmo bem-vindo ao longa, faz com que alguns sustos, em sucessão, percam seu impacto. Talvez algum tempo de respiro, que permitisse uma melhor construção de tensão, pudesse fortalecer tais momentos.

Em um ano de filmes que se perderam em meio às suas muitas ambições e ideias, é uma feliz surpresa constatar que há pequenos filmes como Quando as Luzes se Apagam, que de vez em quando surgem para fornecer um entretenimento competente e direto, sem sacrificar a inteligência de sua execução e interpretações. Fica então a possibilidade de uma sequência, mesmo com a conclusão suficientemente bem-amarrada. Boa-sorte a David F. Sandberg!

Trailer

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.