Crítica: Quando Nos Conhecemos
Nova comédia romântica da Netflix é jovial e despretensiosa, mas deixa a desejar no humor e na elaboração dos personagens
Não vou negar: sou fã inveterado de comédias românticas. Porém não tanto das “produções adolescentes” de hoje em dia, que mais parecem provenientes de uma fórmula enlatada de roteiro, com o início, desenvolvimento e fim pré-estabelecidos pelos moldes preguiçosos que geram sucesso de público. Para mim é clara a superioridade nas abordagens originais do Cinema Clássico, em obras imortais como o emocionante A Princesa e o Plebeu (1953), o incomparável Luzes da Cidade (1931), ou mesmo as comédias românticas dos anos 90 escritas pela genial Nora Ephron, como Sintonia de Amor (1993). O filme Quando Nos Conhecemos não chega a ser uma perda de tempo pois possui uma história de amor bem contada, mas ao mesmo tempo, o filme se aproveita de muitos clichês do gênero e não traz inovações marcantes em sua estrutura narrativa. Além disso, a comédia é simplesmente ignorada pelos roteiristas, não trazendo graça ao filme nem com diálogos e nem em situações aleatórias.
A sinopse gira em torno de Noah (Adam DeVine), que teve um encontro perfeito com a garota dos seus sonhos, Avery (Alexandra Daddario), mas é visto apenas como um amigo por ela. Ele passa os próximos três anos tentando entender o que aconteceu de errado, até que ele tem a inesperada chance de viajar no tempo (sim, uma espécie do já saturado “dia da Marmota”) e alterar a noite e seu destino, mas logo ele percebe que não será tão simples assim.
Apesar de Noah escolher voltar no tempo ao invés de estar preso num loop infinito involuntário durante a repetição do mesmo dia, ainda é possível afirmar que o filme tem sua influência neste modelo de roteiro que se tornou famoso com o clássico Feitiço do Tempo (1993), e que desde então vem sendo utilizado por inúmeros filmes nos mais variados gêneros. Curiosamente, a Netflix já assinou seu nome em duas produções semelhantes: a primeira foi a ficção científica chamada ARQ (2016), que inclusive é protagonizada por Robbie Amell, ator coadjuvante em Quando Nos Conhecemos, e a segunda é outra comédia (porém não romântica), conhecida apenas como Nu (2017).
O filme possui problemas com a construção de alguns personagens, como por exemplo Ethan (Robbie Amell), que é consideravelmente caricato, moldado em cima do estereótipo de “bonitão” que se apresenta como o interesse amoroso de Avery e, a princípio, serve apenas para trazer rivalidade ao protagonista. O problemático, repetitivo e infeliz tratamento da “friend zone” que estamos acostumados é abordado praticamente durante todo o segundo ato. Mas felizmente a resolução do filme parece vir como um alívio para este desenvolvimento massante e sem criatividade, trazendo uma virada inesperada do foco romântico que pode não agradar a todos, mas que definitivamente me agradou.
Aliás, essa é talvez a maior qualidade o roteiro: a imprevisibilidade dos acontecimentos. Embora possamos ter a sensação de que sabemos (de forma geral) onde o filme vai dar (por conta de alguns clichês previsíveis), na realidade não fazemos nem ideia de como cada cena (ou cada loop) vai se resolver, o que mantém o interesse.
Robie Amell e Alexandra Daddario se mostram conformados com personagens simples, sem aprofundamento. Suas atuações são igualmente medianas. A melhor interpretação do filme fica por conta de Shelley Hennig, que faz Carrie, a melhor amiga de Avery. O ator principal, Adam DeVine, faz esforços para dar vida a um protagonista sem passado, mal apresentado pelo roteiro, e com um único objetivo que teoricamente deveria motivar o público, mas que em muitos momentos desmotiva.
Entretanto, o filme não é somente um amontoado de defeitos. Existem qualidades, como o esqueleto do enredo que é muito bem organizado e despretensioso, buscando apenas o entretenimento do público por pouco mais que uma hora e meia. Somos levados a nos interessar pelo ponto de vista de que existe um destino para todos nós e ele não pode ser mudado. Quando Nos Conhecemos é um filme com muitos problemas, mas que pode ser divertido caso não seja assistido com altas expectativas. Para mim, é mais um romance levemente cômico que uma comédia romântica.
FICHA TÉCNICA
Direção: Ari Sandel
Roteiro: John Whittington, Adam DeVine
Elenco: Adam DeVine, Alexandra Daddario, Robbie Amell, Shelley Hennig, Andrew Bachelor, Noureen DeWulf, Chris Wylde , Dean J. West, Tony Cavalero
Produção: Adam Saunders, Mason Novick, Mary Viola, McG
Fotografia: David Hennings
Montagem: Jeffrey Wolf
Música: Eric V. Hachikian
Gênero: Comédia / Romance
Duração: 97 min.