Crítica: Rampage – Destruição Total
Adaptação de videogame acerta ao abraçar a galhofa mas não arrisca muito além
Dwayne Johnson, mais conhecido como The Rock, não costuma embarcar em projetos sérios. A saga Velozes e Furiosos, o recente Jumanji – Bem-vindo à Selva e mesmo Terremoto: A Falha de San Andreas são todos completas galhofas. Com Rampage – Destruição Total, não é diferente.
Baseado no videogame homônimo no qual monstros nivelam prédios inteiros, o filme do diretor Brad Peyton (o mesmo de Terremoto) não parece preocupado com a suspensão da descrença do público, com uma primeira cena digna de um ótimo filme B. Esse momento inicial, que prefiro não entregar, é o que leva à causa do conflito principal do filme: a queda de um patógeno em lugares distintos da Terra, transformando animais em criaturas gigantes.
Um desses animais é George, gorila albino sob os cuidados do primatólogo Davis Okoye (Johnson), que após a transformação do símio e de outros animais se vê em uma corrida contra o tempo para salvar o mundo, com a ajuda da ex-cientista Kate Caldwell (Naomie Harris) e o agente do governo Russwell (Jeffrey Dean Morgan). Há ainda a presença de vilões humanos, na forma dos irmãos Claire (Malin Akerman) e Brett Wyden (Jake Lacy), cujo envolvimento é bastante claro no desastre científico.
Passados alguns minutos de Rampage, percebe-se que nem mesmo o próprio roteiro se leva a sério. De um lado, temos um excesso de diálogos expositivos, motivações óbvias, vilões caricatos e imensos furos de lógica. De outro, temos uma grande aceitação dessas limitações, na verdade, pode-se dizer uma celebração (pensem um filme da SyFy com um alto orçamento). Seja isso bom ou ruim, o enredo de Rampage funciona exatamente como o esperado, e tudo se move rapidamente ao ponto de se tornar um prazer culposo dos bons, culminando em um divertido ato final que condiz com o subtítulo Destruição Total.
Ainda assim não dá pra ignorar, especialmente numa época estagnada por filmes e franquias esquecíveis, a falta de riscos tomados na produção. Para um longa que já começa abraçando a galhofa, Rampage nunca vai além, entregando apenas parte do que se espera na premissa básica ” The Rock vs. Monstros Gigantes”. Essa hesitação pode até mesmo sabotar alguns dos maiores prazeres do filme, como o engraçado agente de Dean Morgan, que mesmo se segurando sozinho acaba carecendo de melhores e maiores cenas.
Isso, no entanto, não quer dizer que o resto do elenco não esteja adequado. É chover no molhado dizer que Dwayne Johnson é carismático, e o ator novamente faz uma boa colaboração com o diretor Peyton. A química de Johnson com George (Jason Liles, em captura de movimento) também é simpática e traz um pouco de coração em meio à ação. Já Akerman e Lacy estão acertadamente escrachados nos papéis de antagonistas, saídos diretamente de uma produção B da década de 70 ou 80. O elo fraco fica por conta de Naomie Harris, que fica claramente fora de seu elemento com um papel imediatamente esquecível (apesar de soltar a possível melhor fala do filme todo).
Já os efeitos especiais são indiscutivelmente impressionantes. Mesmo machucado por uma proposta estética genérica, o trabalho de computação gráfica é de ponta, convencendo na escala e nos detalhes minuciosos vistos em cada monstro. Apesar de ser o único, o extenso embate final entre as criaturas é executado de maneira clara e compreensível por Peyton, favorecendo-se também com uma boa conversão para o 3D (algo que o recente Círculo de Fogo – A Revolta não foi capaz de oferecer). Claro, é tudo rapidamente esquecido no rolar dos créditos, mas pelo menos há uma satisfação momentânea.
É difícil categorizar Rampage – Destruição Total precisamente como bom, muito mais dizer se quebra ou não a maldição dos filmes de games. Mas é certamente divertido, e isso pode ser exatamente o que o espectador procura em algo do tipo, mesmo que não atinja o mesmo nível de prazer culposo de Terremoto ou a modesta criatividade de Jumanji. O monstro não chega a sair da jaula, mas pelo menos botou um pé para fora dela, e infelizmente isso é mais do que alguns blockbusters tem feito. A questão é: até quando?
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