Crítica: The Umbrella Academy (1ª Temporada)

Crítica: The Umbrella Academy (1ª Temporada)

Entre conflitos familiares e a salvação do mundo

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Adaptado dos quadrinhos escritos por Gerard Way, vocalista da banda My Chemical Romance, a série The Umbrella Academy chegou impressionando com um visual surpreendente (dos cenários e figurinos aos efeitos especiais), e nos contando a história de uma família atípica, de sete irmãos, sendo que aparentemente apenas seis possuem superpoderes, e precisam usar de suas habilidades para juntos combater crimes e salvar o mundo.

No meio disso, acompanhamos esses irmãos em duas épocas diferentes: o passado e o presente. No passado, a série nos apresenta a criação rígida e egoísta provinda de um amargo pai, disposto a fazer de tudo pelo que acredita. Enquanto no presente, o roteiro tenta trazer os efeitos e consequências dessa criação, junto à uma série de conflitos que se desenvolvem em arcos secundários. Ao receberem a notícia que seu pai faleceu, todos os irmãos se reúnem na gigantesca casa em que passaram toda sua infância e adolescência. De lá, problemas pessoais e particulares passam a surgir, meio a inconformidade e diferença de opiniões dos personagens.

Com ajuda de Pogo (um chimpanzé falante) e Grace (um robô que é tratado como a mãe de todos os irmãos desde que eram crianças), os irmãos Luther, Diego, Allison, Klaus, Five e Vanya começam a abrir o leque de confianças e desconfianças entre si, e partem por uma busca de segredos escondidos inclusive pelo próprio pai. Os poderes, que vão da capacidade de viajar no tempo até a possibilidade de enfeitiçar com palavras, trabalham em prol das descobertas pessoais de cada um dos irmãos, que passam a conseguir enxergar dentro de si mesmos, e notar defeitos e qualidades.

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Infelizmente, toda essa premissa e caracterização promissora dos personagens travam no desenvolvimento da trama principal e dos arcos secundários. Apesar de sua estética e técnica ser surpreendente, a série perde muito tempo em cenas irrelevantes, além de uma péssima soundtrack, que apesar de conter boas músicas, dá um tom errado à cena que se insere em quase todas as vezes, provavelmente buscando comicidade em cenas de ação (o que funciona somente uma vez ou outra) e até faixas agitadas em momentos dramáticos, que pedem harmonias lentas e melancólicas.

Contamos aqui com atuações não muito poderosas, talvez com exceção de Ellen Page, que interpreta a personagem com maior arco dramático da série, e Aidan Gallagher, trazendo seriedade e astúcia num papel de um pré-adolescente convencido. A confiante direção dos episódios permite uma narrativa dinâmica, que procura se colocar em linhas tênues do que é certo e o que é errado, principalmente nas discussões dos irmãos (mais precisamente entre Diego e Luther), com pontos de vista arremessados sobre o espectador com velocidade.

Sem nos fazer esperar por maiores objetivos (a não ser uma segunda temporada), The Umbrella Academy, enquanto traz uma história de aventura banhada de elementos de ficção científica, discorre sobre a dificuldade de se construir uma família unida, especialmente diante de uma criação traumática e insensível de um pai, que talvez bem intencionado, não soube amar seus filhos como deveria. Ainda com problemas em seu enredo, que hora parece cansativo, repetitivo e previsível demais, a série conquista nossa atenção, principalmente a partir de sua segunda metade, e traz reflexões e situações interessantes sobre autoconfiança, sobriedade, submissão, sentimento de culpa, e muitos outros.

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João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.