Crítica: Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos
O universo de Warcraft, além de complexo, já está bem estabelecido na realidade da legião de fãs que possui. Seja nos games lançados pela produtora Blizzard, livros ou jogos de tabuleiro, Warcraft vem, desde 1994, construindo sua mitologia High Fantasy de maneira respeitosa para seus seguidores. E agora esse universo está ainda maior: em 2016, o mundo dos Orcs se coincide com o dos humanos na telona de cinema. Mas, pelo tempo de existência e importância nerd, será que a franquia Warcraft pode chegar perto de grandes sagas como O Senhor dos Anéis? Será que sua grandeza pelo tempo inserido no mundo gamer se estende até o momento de contar uma história consistente não só para os amantes de fantasia, como também para o grande público? Afinal, não devemos esquecer que, mesmo que o uso de referências seja obrigatório, um filme é um filme; e não importa se ele foi adaptado de um livro ou game. Uma boa narrativa que interesse os espectadores se faz necessária.
Com inúmeras adaptações cinematográficas inspiradas em games já feitas – e algumas fracassadas, o principal desafio de Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos (que foi anunciado lá atrás, em 2006) é justamente esse: ser fiel aos gamers e conquistar os espectadores que não estão familiarizados com todo aquele universo. O diretor do filme, Duncan Jones (diretor de Lunar e Contra o Tempo, e filho de David Bowie), foi a pessoa adequada para integrar a equipe da super-produção, já que é um super fã de Warcraft e é respeitado por sua carreira cinematográfica. Mas por mais que a tentativa de criar um filme aberto e com sentimento tenha sido evidente, Warcraft funciona mais como um presente para os admiradores, até porque o filme adapta a história do primeiro game da saga, Orcs & Humans, que já tem mais de 20 anos. Este é um filme de fã para fã, e não vai muito além disso.
Na trama, os humanos do planeta Azeroth vivem em paz, mas com a abertura de um grande portal, os Orcs saem de seu planeta decadente, Draenor, e invadem a nova Terra com a missão de destruir os humanos. Cada lado possui um guerreiro que busca a paz, mas isso não tira de vista o grande risco de perder seus respectivos povos.
Por mais interessante que a trama seja, ela já é introduzida apressadamente e os “iniciantes” poderão se decepcionar com relação ao desenvolvimento do filme. Quem não joga Warcraft já começa pegando o trem andando… e bem rápido. Com o passar do filme fica mais fácil se situar, mas as inconsistências no roteiro são notadas de longe. Há algumas reviravoltas, mas, com exceção de uma, o restante é bem previsível. O filme é conduzido ora rapidamente, ora lentamente, e essas nuances (em 120 minutos) não são tão prazerosas para quem está conhecendo a Horda e a Aliança pela primeira vez. Há muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, e nem tudo possui a intensidade merecida para uma fantasia épica.
É importante destacar que o diretor fez algo muito interessante: deu a mesma atenção para ambas as facções, apresentando os códigos de honra e o respeito à família que os Orcs possuem e salientando que mesmo o time dos humanos possui um vilão. Por outro lado, com tantos personagens e superficialidade na trama, não dá para identificar o verdadeiro protagonista da história.
Os personagens de Warcraft são até certo ponto interessantes, pois cada um quer cumprir sua respectiva missão. Mas como disse acima, a pressa e a carência de desenvolvimento afeta principalmente a eles. Lothar (Travis Fimmel, de Vikings) é um cavaleiro que busca manter o reino em paz e segue fielmente o Rei Llane Wrynn (Dominic Cooper). O mago Medivh (Ben Foster), que se ausentou de seu próprio povo, o jovem Khadgar (Ben Schnetzer), também feiticeiro, e Garona (Paula Patton), uma guerreira mestiça, fazem parte da Aliança, enquanto Durotan (Toby Kebbell) está ao lado dos Orcs, mas enxerga coisas que seu grupo ainda não vê – como a maldade do feiticeiro Gul’Dan (Daniel Wu) e até onde ele pode ir. Durotan, junto com Lothar, são os personagens mais íntegros dentre todos e se destacam mais por seus ideais.
O visual do filme é simplesmente fantástico e as captações de movimentos dos Orcs seguem essa mesma linha. O 3D funciona bem e não cansa os olhos, e o uso de CG impressiona. Os jogos de câmera que se assemelham com os games são bem dinâmicos e farão qualquer fã querer jogar videogame assim que chegar em casa. A ambientação é sempre viva e colorida e com um clima bastante variado, com lugares cheios de florestas, montanhas e desertos.
É inegável que Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos resgate elementos de fantasia que são sempre bem-vindos e que trazem certo frescor em meio a tantos filmes de super-heróis sendo lançados. Se Warcraft irá quebrar o encanto das adaptações de games que fracassaram no cinema, pode ser que ainda não tenha chegado a hora. Mas que existem planos para uma continuação ou, quem sabe, uma trilogia de mais guerras entre humanos e Orcs no cinema, ah, isso existe, pois é algo que o filme faz questão de transparecer.
FICHA TÉCNICA
Direção: Duncan Jones
Roteiro: Charles Leavitt e Duncan Jones
Elenco: Travis Fimmel, Paula Patton, Ben Foster, Dominic Cooper, Toby Kebbell, Ben Schnetzer, Rob Kazinsky e Daniel Wu
Produção: Charles Roven, Thomas Tull, Jon Jashni, Alex Gartner e Stuart Fenegan
Produção executiva: Jillian Share, Brent O’Connor, Michael Morhaime e Paul Sams
Co-produção: Rob Pardo, Chris Metzen, Nick Carpenter e Rebecca Steel Roven
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