Pela Janela: entrevista com a diretora Caroline Leone

Pela Janela: entrevista com a diretora Caroline Leone

Desde sua estreia em Roterdã em Fevereiro de 2017, Pela Janela é um pequeno filme que vem juntando prêmios e reconhecimento da crítica e do público. O filme esteve também em festivais como Havana, Washington, Rio e na 41ª Mostra em São Paulo. Conversamos com sua diretora, Caroline Leone, experiente na montagem de curtas e filmes diversos, sobre sua estreia na direção de cinema, o trabalho com os atores Magali Biff e Cacá Amaral e mais. Confira abaixo a entrevista.


Para você, o que é o Pela Janela?

Pra mim é o meu primeiro filho. É a primeira vez que consegui colocar uma parte de mim no mundo.

Pela Janela é uma estreia corajosa na direção de longas. É uma narrativa com superfície simples, mas repleta de nuances. Houve dificuldades para aprovar esse projeto?

Quando apresentei o roteiro (para Sara Silveira), ela achou bom, uma história simples, sobre irmãos, e achava legal também falar dessa faixa etária. É um roteiro muito ficcional, muito tradicional, talvez o que você achou corajoso é a maneira como eu fiz. Mas quando eu ia aos pitchings, era “poxa, tá faltando um conflito pra essa mulher”, “essa mulher é muito apática”, “você não vai conseguir fazer um filme sobre um passageiro da vida”. Eu não queria fazer nem um filme turístico nem um filme de amor fraternal, e a gente foi financiando aos poucos… demorou 7 anos. Também tivemos co-produção argentina, com a Rizoma Filmes, que fizeram Mundo Grúa do Pablo Trapero.

Como foi dirigir uma atriz de teatro experiente como Magali Biff em seu primeiro papel central no cinema? 

Ela teve muita dedicação, foi muito inteira. É uma atriz de teatro, tá acostumada ao conforto, a ter todo o aparato ficcional ao dispor dela. E de repente aos 60 anos, ela embarca numa jornada totalmente insegura, sem saber no que ia dar. Não tinha volta, não tinha como refazer cena, então foi uma jornada de desafio pra ela.

Você é experiente como montadora, tendo feito a montagem de Pela Janela também. A montagem, com suas elipses e tudo mais, já era pensada desde o desenvolvimento do roteiro?

Desde o roteiro. Meus curtas também tem isso, acho que a montagem tem muito a ver com o poder do cinema, é uma das ferramentas mais importantes. No Pela Janela, na delicadeza da história, a montagem tem um ritmo que eu considero hipnótico, adentrando cada vez mais na pele daquela mulher. Tem a ver com o ritmo dos cortes, a duração das cenas. Não só a montagem, mas também o som… temos elementos muito cíclicos, como os sons da fábrica que se repetem no terminal de ônibus no final. Tem várias ferramentas de construção cinematográfica que usei pra criar essa célula hipnótica, pra entrar na personagem.

Falando em montagem, o momento mais climático do filme é o das Cataratas do Iguaçu. Quando a água banha Rosália/Magali, há um corte no longo plano que se dava, seguido de um sorriso marcante no rosto dela. É uma escolha simbólica ou estou viajando demais?

Sim, é exatamente isso… imaginei que as pessoas conseguiriam ler isso sensorialmente, mas não assim. Eu e a Anita (Remón) ficamos ‘um corte pra lá, um corte pra cá’, e você perdia um momentinho do que aconteceu. Esse era um corte importante, muito simbólico. O plano continuava, mas no corte a gente construiu uma camada de entendimento sublime, então é um dos meus cortes favoritos, tanto meu quanto da Anita.

Gravaram com câmera na mão? A câmera é quase um personagem.

Sim, meu pai (Cláudio Leone), que fotografou meus curtas também, fez a fotografia. É uma câmera na mão bem fixa, porque eu gosto de um mínimo movimento, um mínimo respiro que torna a câmera humana. No carro, eu mesma fiz a câmera, e também tivemos cadeira de rodas para movimentos de acompanhamento.

Roterdã e Havana premiaram o filme. Como é ter esse reconhecimento do seu primeiro trabalho na direção? Como isso te motiva a seguir isso?

Washington também premiou, prêmio super importante. Mas foi muito importante, porque foi muita solidão na hora de fazer, e você sente que encontrou seu lugar quando essa parte de você que você botou pra fora reverberou. E isso me motiva muito, porque quando terminei eu tava muito cansada, muito insegura do que o filme seria. Quando entrou em Roterdã, eu já fiquei ‘cara!’. Mas o que mais anima é a recepção do público depois de sair da sala, isso me faz querer fazer outro filme amanhã.


Confira também:

Crítica do filme Pela Janela

Entrevista com a atriz Magali Biff

Entrevista com o ator Cacá Amaral


A estreia do filme está marcada para 18 de Janeiro.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.

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