Rebobinando: Kramer vs. Kramer (1979)

Rebobinando: Kramer vs. Kramer (1979)

Como de costume, toda quarta o Rebobinando está sempre relembrando de clássicos do cinema, e hoje trazemos uma obra-prima atemporal que deve ser lembrada eternamente. Os anos 70 foram importantíssimos para o cinema, e hoje dissertaremos sobre um filme que foi responsável por fechar essa década com chave de ouro, mostrando ao mundo que um simples drama familiar com uma boa história pode ser o suficiente para atrair o interesse do espectador. O filme é…

KRAMER VS. KRAMER (1979)

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Não é preciso ser um gênio para saber o quanto um divórcio é doloroso para todos os envolvidos, não é mesmo? Pois foi exatamente em cima disso que o diretor e também roteirista, Robert Benton, buscou conduzir sua obra. É no nosso lado sensível que o filme cumpre seu maior papel, de forma extremamente efetiva, em um enredo que reflete a realidade de muitas pessoas que passaram por uma fase de separação durante o relacionamento, sendo que ainda precisam criar um filho, e explicá-lo toda situação complicada que é esse momento conturbadíssimo. Simplesmente emocionante.

A história parte de uma família convencional, onde o pai, Ted Kramer (Dustin Hoffman), vive ocupado com seu trabalho e não dá a devida atenção para sua esposa, Joanna (Meryl Streep), que se sente muito solitária e com muitas responsabilidades, e também seu filho, Billy (Justin Henry). Nessas condições, Joanna, sem suportar a situação, resolve sair de casa e abandonar Ted com Billy. Inicialmente, Ted encontra dificuldades para lidar com as responsabilidades da casa e do trabalho, além de se dedicar a seu filho. Mas após estabilizar seu novo estilo de vida, Joanna aparece pedindo a guarda de Billy, o que deixa Ted revoltado, levando os dois a lutar pela custódia da criança no tribunal.

Talvez uma das maiores qualidades do filme, senão a maior, tenha sido as atuações insuperáveis dos habilidosos Dustin Hoffman e Meryl Streep. Porém a direção de Robert Benton chega a ser surpreendentemente satisfatória, auxiliada pela ótima fotografia de Nestor Almendros. Com luzes baixas e escassas nos interiores, ela estabelece movimentos e ângulos de câmera subjetivos que evidenciam os sentimentos dos personagens e do público em relação a determinadas cenas, utilizando de temperaturas de luz como um branco frio para denotar sofrimento e angústia.

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É interessante que a obra trata de uma questão até então não tão presente nos moldes da sociedade, o papel até então da mulher, sendo realizado pelo homem. Se hoje já é raro, nos anos 70, era dificílimo encontrar uma família em que as tarefas diárias de uma mãe dona de casa, fossem destinadas ao pai, que como o filme mesmo explora, aparentemente não conhece nada sobre os cuidados com um filho e com a casa. Porém, Ted consegue aos poucos aprender a dar conta do recado. E estão entre esses momentos de obrigações e afazeres, uma das maiores virtudes da história, que nos joga um filho e um pai que precisam aprender a se entender, e a aliviar suas dores.

Emocionante é pouco para definir as cenas dramáticas do filme, que sem precisar explorar tantos os diálogos, sabem tocar no ponto mais íntimo do espectador, deixando-o perdido nas desilusões dos personagens. Destaque para as expressões corporais e espaciais dos atores, que transmitem uma grande noção de isolamento, união, desinteresse, revolta, e vários outros sentimentos. Outro grande ponto positivo foi a direção de arte que utiliza de cores quentes para enfatizar  alguns objetos, e no geral cores frias que representam a tristeza dos momentos, que se concentra boa parte da narrativa.

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O roteiro é lento, típico de filmes europeus, mas não torna o filme cansativo – pelo contrário, o ritmo somente intensifica o clima desolador da falta que Joanna faz, e a esperança do público em que o filme se resolva de forma razoável, sem precisar apelar para um fim doloroso, já não bastando todo seu desenvolvimento torturante. Kramer Vs. Kramer venceu 5 Oscars, sendo de melhor ator principal para Hoffman; melhor atriz coadjuvante para Streep; melhor direção e melhor roteiro adaptado para Benton; e melhor filme, o qual surpreendeu a todos ao derrubar o poderoso Apocalypse Now de Francis Ford Coppola.

Com certeza é um filme que merece ser citado repetidamente como uma das representações mais fiéis do divórcio e das mazelas de suas consequências. Imperdível para todos os públicos que apreciem um bom drama tocante, pois não é todos os dias que vemos uma obra tão natural e com um conteúdo tão forte como essa, onde os diálogos cumprem sua função sem exageros. O filme é uma prova de que para conquistar o espectador não é necessário inovar com muitas revoluções, basta saber contar uma história realista com aspectos audiovisuais adequados.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.