Rebobinando: Cantando na Chuva (1952)

Rebobinando: Cantando na Chuva (1952)

Hoje trazemos uma edição especial, um clássico que provavelmente assume o posto de obra mais popular/famosa que já apareceu por aqui nessa seção. O Rebobinando surgiu como uma subdivisão que relembra e homenageia quaisquer filmes antigos do cinema (até 1999), mas eu particularmente nunca gostei de abordar filmes tão comentados, pois não havia necessidade de relembrá-los uma vez que eram produções citadas a todo momento pelos cinéfilos (felizmente). Entretanto, aos poucos descobri que, na verdade, muitas pessoas só conhecem o filme da vez através da famigerada cena de Gene Kelly cantando e dançando na chuva, e que boa parte do público não tinha de fato conferido esse prestigioso musical. Então, dessa vez relembro e indico o respeitado clássico…

CANTANDO NA CHUVA (1952)

Gostar de musicais não é para qualquer um (até o emocionante e atual La La Land não agradou a todos), e antigamente não era diferente. A “suspensão da descrença” (ato de penetrar-se no mundo proposto pela história sem receios e observações para com a distinção da realidade) é uma questão muito complicada para qualquer filme fantástico e sobrenatural, mas talvez seja uma tarefa ainda mais preocupante para os musicais. Vários expectadores se incomodam em ver um filme em que pessoas em questão de minutos começam a cantar e dançar sem nenhuma razão, e por isso é importante que haja uma preparação do público por meio da divulgação do filme e do próprio desenrolar temático das cenas, algo que Cantando na Chuva faz profundamente bem, desde seu título sugestivo até o conteúdo romântico e artístico de sua história.

A sinopse parte de Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen), dois dos astros mais famosos da época do cinema mudo em Hollywood. Seus filmes são um verdadeiro sucesso de público e as revistas inclusive apostam num relacionamento mais íntimo entre os dois, o que não existe na realidade. Mas uma novidade no mundo do cinema chega para mudar totalmente a situação de ambos no mundo da fama: o cinema falado, que logo se torna a nova moda entre os espectadores. Quando os produtores e diretores da época decidem produzir um filme falado com o casal mais famoso do momento, Don e Lina precisam entretanto superar as dificuldades do novo método de se fazer cinema, para conseguir manter a fama conquistada.

Sim, após ler a sinopse todos pensamos que Lina é a personagem feminina principal da obra, mas percebemos que nos enganamos após a chegada da bela e delicada Kathy Selden, interpretada pela atriz Debbie Reynolds, que logo se mostra o futuro interesse amoroso de Don que conduzirá o romance do enredo. Teoricamente Lina então assume um papel coadjuvante, mas bastante presente em tela, assim como o cômico e entusiasmado Cosmo Brown (Donald O’Connor), amigo de Don que além de roubar as atenções em cena, participa de ótimos números músicais no filme.

Essa concreta metalinguagem do filme com a realização das filmagens é bem executada e bastante crível, caminhando por uma época de suma importância para a história do cinema: a transição do cinema mudo para o cinema sonoro. É mostrado os imprevistos e os erros de gravação que criam ótimas sequências de comédia, o que é elevado durante a relação dos personagens e seus diálogos rápidos e criativos. A fotografia e a arte trabalham juntos numa coloração chocante que serviu de inspiração para o já citado La La Land (filme que homenageia o clássico em várias cenas).

Boas atuações é o que não falta, Kelly, Reynolds e O’Connor formam um dos trios musicais mais envolventes do cinema, com expressões corpóreas forçadas que espantosamente combinam com o estilo deslumbrante do clássico. Citemos também os números musicais contagiantes, que inclusive deveriam ser mais divulgados em páginas de facebook e em vídeos do youtube, pois além da ilustre Singing In The Rain, temos adoráveis músicas cheias de dança e movimentos de câmera que acompanham os passos dos atores como Good Morning, Make ‘Em Laugh e You Were Meant For Me.

Ainda que tudo seja nitidamente brilhante aos olhos do público, que se encanta com os figurinos sedutores e as cores chamativas do filme, a história é emocionante da melhor forma, e usando de pequenos elementos narrativos previsíveis (mas encantadores) é difícil não entrar dentro de nossas almas frágeis e sensíveis e cavar um grande buraco de emoções. Se você leitor, que me acompanhou até aqui, apenas viu os famosos sapateados de Gene Kelly mas ainda não conferiu esse clássico dos anos 50, é hora de se permitir comover com um dos filmes mais imortais da história. Que Cantando na Chuva continue conquistando mais fãs ao longo das décadas e que se mantenha liderando o ranking de melhores musicais de todos os tempos feito pela AFI (American Film Institute).

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.

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