Rebobinando: Terror em Amityville (1979)

Rebobinando: Terror em Amityville (1979)

Os anos 70 foram anos gloriosos para os filmes de terror americanos. Clássicos como Carrie, a Estranha (1976), O Massacre da Serra Elétrica (1974), Halloween (1978) e Alien (1979) entram nesse contexto, sem falar do imortal e supremo O Exorcista (1973), que até hoje é frequentemente citado como o maior terror de todos os tempos. Mas o Rebobinando de hoje não será sobre nenhum desses, pois ao contrário dos já citados, o filme da vez foi um fracasso de crítica e acabou sendo mal visto por muitos da época, porém, não deixou de agradar uma boa parte do público que adora se envolver com um terror sobrenatural baseado em fatos reais. A obra de hoje teve inúmeras sequências e até um “remake” em 2005. As aspas justificam o fato de ser uma refilmagem bem diferente, com cenas em comum e outras inovações na história. De qualquer forma, o clássico marcou para sempre a fama da casa mal-assombrada mais conhecida do mundo. Sim, o filme é…

TERROR EM AMITYVILLE (1979)

Essa produção foi baseada no livro de 1977 escrito por Jay Anson, que por sua vez é baseado em fatos acontecidos logo após o ano de 1974, quando em 13 de novembro, por volta das 3:15 da manhã, um homem chamado Ronald DeFeo Jr. assassinou seus pais, seus 2 irmãos e suas 2 irmãs com uma carabina. Os corpos foram encontrados de cabeça para baixo em suas camas, e algumas questões ficaram sem explicação, como o fato de nenhum vizinho ter acordado com os tiros, sendo que tiros de um rifle são extremamente altos.

Entretanto, a história principal do livro e do filme não são sobre a família DeFeo, mas sim sobre George e Kathy Lutz, e seus 3 filhos, que realmente existiram e foram morar na mesma casa dos assassinatos um ano depois do ocorrido. É aí que se inicia a história do filme, quando os Lutz passam a viver uma forte experiência sobrenatural. Gradativamente descobre que o novo lar é possuído por um espírito demoníaco, que perturba a família e todos com quem se relacionam, fazendo assim com que passem a conviver com um medo da morte cada vez maior.

No filme, os personagens George (James Brolin) e Kathy (Margot Kidder) são pouco aprofundados, mas acredito que isso tenha sido proposital, facilitando uma conexão própria com os acontecimentos do filme e com a própria casa, que se torna a maior identidade de terror da obra. Porém os respectivos atores são competentes e trazem para suas expressões faciais todo o desespero de uma família que é assombrada por forças diabólicas. A atuação de Brolin merece destaque, pois o ator não se entrega simplesmente à clássica atuação de medo e pavor dos filmes de terror, ele também precisa adentrar em uma loucura psicológica ocasionada pelos acontecimentos do filme, e quando o personagem começa a enlouquecer, nos lembramos até do icônico Jack Torrance de O Iluminado (1980), interpretado por Jack Nicholson em um dos melhores filmes de sua carreira.

Seria esse fracasso de crítica uma pequena referência audiovisual para um dos suspenses psicológicos mais renomados de todos os tempos? Lembremos que, embora o livro original de Stephen King tenha sido publicado no mesmo ano que o de Jay Anson (1977), é de parâmetros visuais (filme) que estamos falando e não da história, pois toda a caracterização de George Lutz com seu machado e seu semblante pavoroso lembram de fato o clássico de Kubrick.

Terror em Amityville é um tipo de terror que não recorre à imagens de espíritos e rostos desfigurados, o que decepciona, mas também agrada muitos expectadores. É um típico terror sobrenatural que tenta transmitir todo seu suspense assustador de maneira sutil e gradativa, algo como A Bruxa de Blair (1999) e Atividade Paranormal (2007), porém sem usar do artifício do found footage (filmagem encontrada). O filme também é considerado por várias pessoas um drama psicológico, por abordar junto ao sobrenatural, o distanciamento familiar e os problemas emocionais dos personagens.

Independente do gênero e de sua abordagem, posso te assegurar leitor, que vários sustos vão te pegar desprevenido, talvez um dos maiores sustos que tomei nos últimos meses tenha sido desse filme. Sem falar de toda ambientação horripilante que a arte e a fotografia trazem consigo. Ao fim do filme, ficamos com aquela leve impressão que hoje em dia falta algo para os filmes de terror atuais, mas que vai além dos exagerados efeitos especiais, algo que está inserido no desenvolvimento do roteiro, nos enquadramentos, e na própria direção de arte, responsável por tornar os cenários sinistros.

Algumas curiosidades ainda permeiam essa obra, como o fato de que as cenas externas do filme não foram rodadas na em Amityville, mas sim em New Jersey, pois o local verdadeiro foi vetado pelas autoridades. Mas o mais impressionante, é que mesmo o filme sendo um desastre aos olhos dos críticos, a trilha sonora composta por Lalo Schifrin foi indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro como melhor trilha sonora original. Por essa você não esperava não é? Admito que realmente a música tema do filme é bem aterrorizante, e constrói muito bem o clima pretendido. Terror em Amityville embora não seja avaliado positivamente pela crítica, deixou uma eterna marca nos corações dos cinéfilos, e se fixou como um clássico até hoje.

João Pedro Accinelli

Amante do cinema desde a infância, encontrou sua paixão pelo horror durante a adolescência e até hoje se considera um aventureiro dos subgêneros. Formado em Cinema e Audiovisual, é idealizador do CurtaBR e co-fundador da 2Copos Produções. Redator do Cinematecando desde 2016, e do RdM desde 2019.