Sessão da meia-noite: The Rocky Horror Picture Show

Sessão da meia-noite: The Rocky Horror Picture Show

Por Gabriel Campos

Resolvi dedicar meu post de estreia aqui no Cinematecando ao melhor filme de todos os tempos: The Rocky Horror Picture Show. (Vai ter spoilers, então não diga que eu não avisei).

Esse foi o primeiro (de uma loooooonga lista) dos filmes que eu tive que roubar. Tudo isso porque o cara da videolocadora não quis me vender o único VHS disponível dessa maravilha cinematográfica. Sim, essa história aconteceu quando a gente tinha que sair de casa montado no nosso dinossauro e ir até um lugar para alugar uma espécie de pen drive gigantesco que continha o filme desejado e tínhamos que PAGAR por isso. Se você não pagasse, a locadora te perseguia o dia inteiro através de telefonemas e cartas “Senhor Gabriel? Você não devolveu o filme ‘a Branca de Neve tarada e os anões ninfomaníacos’ de novo!”. Era um inferno.

Buscando por novidades, eu estava entre as prateleiras de uma videolocadora desconhecida e vi a capa desse filme. Era simples, preto, sem letras ou qualquer informação, apenas com dois grandes e suculentos lábios vermelhos que pareciam escorrer sangue. Me apaixonei ali mesmo. O dono do estabelecimento falou pra mim que eu odiaria esse filme, porque ninguém nunca alugava ele mais que uma vez, afinal, quem poderia gostar de “um musical esquisito de terror e comédia”?

Me ofereci para comprar, mas não deram bola para mim. Então esperei ele se distrair, enfiei a fita na mochila e sai correndo.

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A capa da minha fita velha

Os lábios da embalagem apareceram na minha tela assim que eu apertei o “play”. A música de introdução falava de filmes clássicos de terror e sobre a magia que o cinema pode trazer. Logo depois somos apresentados a Brad Majors e sua esposa, Janet Weiss, interpretada pela maravilhosa Susan Sarandon (meu crush eterno).

Aparentemente, eles são o casal mais bunda mole que já passou no planeta Terra. Coxinha mesmo. Dá pra imaginar que eles são o tipo de pessoa que gosta de usar camisa Pólo. Brad e Janet ficam no maior love, mas aí o carro deles quebra no meio de uma floresta. Durante uma chuva forte. Perto de um castelo esquisitão.

Chuva + escuridão + Castelo sinistro = melhor combinação para um filme!

Procurando por abrigo e por telefone (pois é, não tinha celular nessa época. Pra falar com alguém era necessário treinar um pterodáctilo e usá-lo como carteiro), o casal é recebido no castelo pelo mordomo Riff Raff e a faxineira Magenta, que não se esforçam nem um pouco para causar uma boa impressão, muito pelo contrário, tocam Brad e Janet de modo inapropriado, gritam com eles e cantam um rock quer fala sobre a viagem no tempo. Talvez esse seja um dos momentos mais legais da história do cinema, porque a partir daí uma série de coisas bizarras começa a acontecer. Riff Raff e Magenta empurram o casal recém chegado para o meio da festa mais legal que eu já vi. É como se a Elke Maravilha tivesse parido várias pessoas e colocado elas pra dançar.

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The Time Warp: Columbia tap dances

Foi nesse momento que tudo na minha vida ficou um pouco melhor. Nunca vou esquecer da sensação de ver essa cena pela primeira vez.

Susan Sarandon dá um grito ao ser pega de surpresa pelo dono do castelo e anfitrião da festa. Uma melodia pulsante de contrabaixo faz com que a atenção do espectador não tire os olhos da tela, e, lentamente, o rosto do personagem é revelado: maquiagem forte, sobrancelhas delineadas, um forte batom vermelho… num rosto masculino. Então ele faz sua entrada triunfal, arranca a longa capa de cetim que envolve seu corpo e TCHARAM! Lá está um travesti de lingerie cantando um rock. SIM! EU SEI! É FANTÁSTICO! PODE APLAUDIR DE PÉ! Seu nome é Frank’n’Furter, interpretado brilhantemente por Tim Curry (esse ator fez o Gomes da Família Adams, o palhaço Pennywise do Stephen King e o próprio Diabo no filme Legend; ou seja, ele curte temas obscuros. Eu pegava fácil).

Frank nos informa que o motivo da festa é para celebrar com seus colegas cientistas a sua mais nova criação. Ele aprendeu a unir elementos da natureza como cores, raios, trovões e pedaços de cadáveres para criar o homem ideal. Diferente da obra clássica de Mary Shelley, essa versão do monstro Frankenstein é um homem alto, musculoso e loiro que foi projetado para satisfazer os desejos de seu criador. Foi criado para molhar o biscoito, afogar o ganso, fazer tico tico no fubá, tchaca tchaca na butchaca, enfim, você entendeu o que eu quero dizer.

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Dr. Frank’n’Furter (Tim Curry)

Falando assim, o filme parece uma devassidão sem fim, mas a verdade é que ele usa da sátira, dos elementos trash e da estética kitsch para fazer algumas críticas ácidas a hipocrisia da sociedade. Brad e Janet, que representam os bons costumes, aos poucos se revelam. Janet percebe que tem um apetite sexual enorme e Brad descobre que possivelmente é bissexual.

Isso pode parecer normal hoje, mas imagine em 1975!

O filme foi um fracasso de bilheteria por muito tempo, até que um dos produtores teve a ideia de exibí-lo em salas específicas de cinema, em lugares onde a cena punk estava começando a desabrochar. A cereja do bolo foi quando o filme passou a ser exibido depois da meia noite e se tornou um cult a partir daí. O mais curioso é que The Rocky Horror Picture Show criou um jeito novo de interação entre a platéia e o filme, pois os fãs respondem ao enredo gritando coisas relacionadas as cenas exibidas, repetindo as coreografias e é praticamente impossível ir a alguma sessão de exibição sem encontrar um batalhão de pessoas vestidas como os personagens da história.

Em outubro desse ano, o canal FOX fez uma nova versão desse filme com novos atores e não chegou nem perto de ser bom, portanto, não recomendo assistir. MAS, o ator Marcelo Medici e um grande elenco vão montar a versão teatral baseada na peça que deu origem ao filme. Ao que tudo indica, eles seguiram o roteiro original e prometem surpresas. Veja mais informações no link a seguir: http://teatroportoseguro.com.br/atracoes/rocky-horror-show.html

Muita gente tenta explicar o sucesso dessa obra. Para mim é simples: a estética punk, as músicas ótimas e o bom humor dos diálogos clichês são apenas um chamariz. A verdadeira mensagem do filme é revelada nas cenas finais, quando os personagens cantam juntos a frase DON`T DREAM IT. BE IT. Simples, mas profundo. A moral é que nós devemos nos despir da imagem hipócrita que a sociedade quer impôr e vestir aquilo que queremos ser.

Mais de 40 anos depois de sua estréia, eles continuam certos. Não sonhe. Seja. 

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O MINISTÉRIO DOS AVISOS INFORMA: Essa coluna não vai fazer uma crítica ao filme ou revelar muito sobre os acontecimentos dele, afinal, meu desejo é que você assista isso AGORA MESMO e depois vá tomar uma cerveja comigo pra gente falar a respeito. Me segue lá no Instagram ou no meu canal no Youtube youtube.com/gabrielcomenta.

Redação

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