Crítica: Tempo

Crítica: Tempo

Quanto tempo ainda temos? É possível viver o agora se sabemos quando será o fim? O novo longa de M. Night Shyamalan, Tempo, parte de preceitos interessantíssimos. Baseando-se na HQ Castelo de Areia, de Pierre-Oscar Lévy e Frederik Peeters, o filme apresenta uma família preparada para passar férias aparentemente normais em um resort à beira-mar. Quando vão à praia local, no entanto, eles se vêem em uma situação inacreditável: a cada hora passada, cada um deles envelhece cerca de dois anos. 

Presos e incapazes de encontrar qualquer saída da praia, as personagens estão destinadas a um fim cada vez mais próximo. Assim que a premissa se estabelece, Tempo provoca angústia ao introduzir indivíduos que desde já estão fadados à morte súbita. Filhos se veem confrontados com a ideia da mortalidade de seus pais, e os pais se veem diante do rápido envelhecimento de seus filhos, perdendo em um dia o que seriam em outras circunstâncias décadas de memórias. 

Guy (Gael García Bernal) e Prisca (Vicky Krieps) são o casal de protagonistas cujos problemas conjugais se tornam banais diante do fantástico. Ao invés de crescerem junto à situação vivida na praia, suas inseguranças e dúvidas parecem cada vez mais distantes e pequenas conforme a passagem do tempo dita os destinos daqueles que lá se aventuraram.  Seus filhos, enquanto isso, passam por evoluções turbulentas, da infância à puberdade à adultez em um piscar de olhos.

É em seu núcleo familiar que Tempo encontra suas maiores forças, oferecendo um retrato delicado dessas pobres pessoas cujas vidas são roubadas diante de seus olhos.  As personagens secundárias, no entanto, parecem apenas estar lá como cobaias do diretor para exercer seus destinos mórbidos. Há instantes verdadeiramente horripilantes, rendendo imagens de alto impacto, mas sente-se que todos exceto a família central são nada mais que bucha de canhão, ou melhor, de praia. 

Tempo, ironicamente, também tem dificuldades em viver seu agora. Há uma série de situações que se amontoam uma sobre a outra com o propósito de criar uma montanha russa, mas essa cadeia de emoções raramente deixa algum momento de respiro. Na verdade, há cenas contemplativas que são boas o suficiente para fazer o espectador querer mais delas, com alguns instantes de real ternura entre Bernal e Krieps, que estão satisfatoriamente sutis em seus papéis – mesmo com alguns diálogos que parecem querer explicar suas emoções a todo custo. 

O que acaba por definir o sucesso ou fracasso de Tempo é sua conclusão, destinada a dividir opiniões. Sem querer entrar em spoilers, trata-se de um desfecho que se mostra excessivamente explicativo e conveniente, na visão pessoal deste crítico. Isso, no entanto, dependerá do quanto seu público aceitará a crença universal que as personagens principais e secundárias de Shyamalan têm na fantasia, um valor que o diretor carrega consigo desde que deu o pontapé em sua carreira. Pelo menos não podemos dizer nunca que o cineasta trabalhou no piloto automático, e Tempo tem momentos que brilham o bastante para destacar seus talentos acima de suas falhas.

Hoje nos cinemas.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.