13 Reasons Why | Nós somos responsáveis pela saúde mental daqueles que nos rodeiam
Esse é um texto de opinião e inclui experiências próprias
A escola pode ser algo cruel. Como se já não bastasse toda a pressão para decidirmos, em poucos anos, o que vamos fazer pelo resto de nossas vidas, é nesse momento que precisamos nos esforçar para criarmos amizades e não nos sentirmos sozinhos no meio disso tudo. Então, surge a necessidade de nos encaixarmos em algum grupo. Afinal, nós TEMOS que nos identificar com algo ou alguém. É nessa fase também que nos importamos mais com o nosso corpo, cabelo, aparência. A sociedade te aceita melhor quando você segue certo padrão estético e comportamental: sorria, fale bom dia para todos, emagreça, alise o seu cabelo. Seja uma modelo. Se você é mulher, ainda existe uma lista de regras de etiqueta sobre como ser uma garota decente, que os homens vão olhar e dizer: essa é para casar (como se a gente idealizasse o casamento como único objetivo de vida). E, caso você não siga esse modelo criado pela sociedade, você pode ser alvo de bullying, preconceito, racismo, machismo, violência física e psicológica. Você pode desenvolver depressão, ansiedade, crise de pânico, fobia social e acabar desistindo de viver por acreditar que a culpa de não se encaixar em algum lugar é sua. Mas, na verdade, não é. O mundo deveria ter espaço para todos.
Esses dias eu maratonei Os 13 Porquês (13 Reasons Why), nova série da Netflix baseada em um livro de mesmo nome, escrito por Jay Asher. Olhando para toda aquela situação, acabei me recordando de todas as vezes que passei por algo que me deixou no limite. Um exemplo de machismo e agressão aconteceu na 8º série, quando um garoto pediu um beijo e eu recusei. O resultado do meu “não” foi um soco no estômago e eu fiquei me perguntando o que havia feito para merecer aquilo. Há quase 10 anos, eu não era uma pessoa que tinha argumentos para rebater. E então eu me peguei pensando em todos aqueles “amigos”, que se diziam os melhores, mas sumiram sem dar qualquer explicação ou aqueles que falavam que a minha insegurança era besteira, que eu era louca. Também me lembrei dos que me trataram como objeto e se acharam no direito de passar a mão em alguma parte do meu corpo sem autorização. Eu tenho certeza que muitos passaram pelas mesmas situações, ou até mesmo por momentos piores, e é importante entender que cada um lida com isso de um jeito diferente. Sabe aquela história de que as pessoas sentem em níveis distintos? Algumas são mais sensíveis do que as outras e é necessário respeitar essa individualidade. Mas, principalmente, é imprescindível entender que nós somos responsáveis pela saúde mental daqueles que nos rodeiam e isso significa que nossas palavras e atitudes são capazes de machucar tanto que podemos ser um dos gatilhos para a tragédia de alguém.
Eu concordo que precisamos nos colocar sempre em primeiro lugar e com isso eu quero dizer algo bem simples: nós temos que nos valorizar e nos preocupar com a nossa felicidade e bem-estar (amor próprio, sabe?), mas isso é muito diferente de ser egoísta. Há diversas maneiras de nos comunicarmos e a grande questão é escolhermos as palavras certas. Claro que ninguém é perfeito e somos grossos e rudes em momentos que, depois de pararmos para pensar, descobrimos que não deveríamos. Além disso, é sempre possível evitarmos piadinhas e comentários que sabemos que pode ofender alguém, assim como julgamentos precipitados, boatos, rumores, fofocas. Quando eu estava no ensino fundamental, alguém espalhou fotos de uma garota nua na escola. Essas fotos foram parar na tela dos computadores da sala de informática e o assunto do dia foi: quem é a dona dos peitos daquela foto? E os comentários foram muitos e sempre ofensivos: vadia, puta, ninguém mandou enviar essas fotos. O rapaz? Ele não foi punido e talvez nem tenha se sentido culpado. Isso pode ser o fim para alguém.
Goste você de 13 Reasons Why ou não, a série abre os olhos para assuntos espinhosos que tentamos ignorar no nosso dia a dia e mostra como bullying, machismo, preconceito e etc são capazes de acabar com a vida de uma pessoa. Alguns não se abalam (ou tentam se abalar o mínimo possível), outros precisam de pouquíssimos motivos para desistir. A produção também mostra a importância de não negarmos ajuda. Muitas vezes a pessoa só precisa de alguém que a escute e dê alguns conselhos que a motive a continuar caminhando. E, a lição mais importante e que devemos levar para a nossa vida: nós precisamos saber o que é responsabilidade emocional. Entender a dor do outro, sem minimizá-la. Outro ponto é não romantizarmos as doenças psicológicas. Incrível como as redes sociais são capazes de transformar ansiedade e depressão, por exemplo, em doenças “da moda”. Escute: quem convive realmente com essas doenças, faria qualquer coisa no universo para não tê-las. Romantizar é também uma forma de minimizar o problema que afeta tanto outro indivíduo. E lembre-se: nós nunca sabemos o que está acontecendo na vida de alguém. O fato de ela transparecer calma não significa que por dentro ela não esteja explodindo.
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