42ª Mostra – Crítica: A Rota Selvagem
Aprender a recomeçar
A figura de linguagem contida no cerne de A Rota Selvagem não é das mais originais: tanto o menino Charley (Charlie Plummer) como o cavalo por quem se afeiçoa são tidos como pangarés, atletas anteriormente considerado promissores abandonados à própria sorte em um determinado momento da vida e que precisam um do outro para sobreviver.
É uma história clássica de amadurecimento, aqui contada de um jeito correto pelo diretor e roteirista Andrew Haigh, adaptando o livro de Willy Vlautin, mesmo que sem a pungência acachapante de 45 Anos, seu excelente longa anterior.
O tom é o agridoce típico do cinema indie norte-americano, com cidades no meio do deserto, hotéis de beira de estrada e atores acostumados a participar de filmes do estilo, aqui em participações especiais: Steve Buscemi, Chloë Sevigny e Steve Zahn, além de Travis Fimmel (de Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos e da série Vikings), este como o pai do protagonista.
Charley conhece Lean on Pete, o cavalo acostumado a correr páreos nada glamurosos, quando cruza o caminho de Del (Buscemi), sujeito malandro que vive de criar animais para as disputas. O que era para ser seu primeiro emprego vira algo bem maior quando o jovem descobre que seu chefe tem planos de se desfazer do bicho. Charley toma uma atitude drástica e começa a cruzar os limites da lei, enquanto desbrava o país à procura da tia, com quem perdera contato há tempos.
O mais interessante em A Rota Selvagem é acompanhar o protagonista descobrir o quão cruel o mundo pode ser. Haigh faz em seu filme um retrato de uma juventude estadunidense sem perspectivas, muitas vezes negligenciada pela família e com o vulto do alistamento militar fixamente pairando no ar – a cena em que Charley passa uma noite na casa de dois soldados que retornaram do conflito no Oriente Médio é emblemática ao discutir estes temas.
Ainda assim, o filme não soa pessimista. Muito disso é por conta da atuação de Plummer, vencedor do prêmio de melhor ator jovem no último Festival de Veneza. Ele constrói um personagem sempre gentil, mesmo diante das maiores atrocidades, capaz de pedir desculpas praticamente de forma simultânea a bater violentamente num homem que roubou seu dinheiro.
Diante de um cenário desolador, Charly reúne forças para manter a esperança e recomeçar do zero, sem perder a essência de boas intenções dentro de si. Uma mensagem importante, especialmente em tempos difíceis como estes que todo o planeta atravessa.
Um comentário em “42ª Mostra – Crítica: A Rota Selvagem”
Comentários estão encerrado.