43ª Mostra – Crítica: Mr. Jimmy
Nos mínimos detalhes
Para a maioria dos fãs, ter a oportunidade de encontrar seu ídolo é o ápice da relação. Não é o caso de Akio Sakurai, que dedicou boa parte da vida a emular cada movimento de Jimmy Page, icônico guitarrista do Led Zeppelin e um dos maiores guitarristas da história do rock. Para Sakurai, ter sido aprovado como um respeitável imitador pelo próprio músico não é o suficiente. Ele quer ser o próprio Page.
O documentário Mr. Jimmy é o retrato dessa obsessão. Sakurai conta sobre o impacto de ter visto o lendário filme-concerto The Song Remains The Same no cinema no final dos anos 70, ainda jovem. Foi desde então que passou a gastar tempo e dinheiro em instrumentos, amplificadores e figurinos, tudo meticulosamente pensado para captar com precisão a sonoridade e presença de Page.
Quem conhece a banda sabe o quanto é difícil imitá-la. O Led Zeppelin ficou famoso por mudar os arranjos a cada show, muitas vezes transformando canções em jam sessions que continham longos solos, totalmente diferentes das versões gravadas em estúdio. O protagonista sabe de cor e salteado cada variação, e é capaz de demonstrá-la com o instrumento. É algo de fato fascinante, mas que se revela uma dor de cabeça quando Sakurai passa a integrar bandas covers do Led. Seu grau de exigência testa a paciência dos colegas de palco, céticos de que o público geral vai reparar em tantas nuances.
Em certo sentido, o filme padece do mesmo mal de seu personagem central. A vontade de se explicar cada coisa nos mínimos detalhes é tanta, que a narrativa em alguns momentos torna-se redundante, com depoimentos e imagens que muitas vezes se repetem.
Já conceitos que poderiam render desdobramentos interessantes são apresentados apenas de passagem, como a frase do empresário que compara a versão japonesa da Disneylândia com a experiência de se assistir à banda de Sakurai: “As pessoas sabem que tudo isso é falso, mas não se importam”.
O que está por trás dessa vontade, tanto do público que consome os covers quanto do próprio Sakurai? O diretor Peter Michael Dowd não parece interessado nessa investigação. Fica claro que Dowd acompanhou seu personagem por anos a fio, e talvez tenha faltado distanciamento para fazer contrapontos que poderiam gerar mais conflito à narrativa.
Ainda assim, Mr. Jimmy tem bons momentos e uma ótima trilha sonora, não apenas com as músicas do Led Zeppelin, mas também do blues norte-americano, que sugerem que até mesmo Jimmy Page se inspirou em alguém para chegar onde chegou.