Crítica: A Maldição da Casa Winchester

Crítica: A Maldição da Casa Winchester

A veterana Helen Mirren é desperdiçada em sonolenta atração de parque

Novo terror dos irmãos australianos Peter e Michael Spierig, A Maldição da Casa Winchester não tarda a apresentar sua premissa principal: um médico (Jason Clarke) deve investigar o estado mental da viúva Sarah Winchester (Helen Mirren), que herdou a companhia de rifles e agora vive em uma gigantesca casa, sob a crença de que está amaldiçoada por todas as mortes causadas por suas armas. A simples história ainda tem suas reviravoltas, é claro, mas se revela insuficiente para sustentar um longa-metragem de 1h40. Nem mesmo uma fotografia e design de produção elaborados dão algum substancial peso ao anêmico enredo.

Pode-se dizer que o filme tem um início promissor. Com um vertiginoso plano aéreo, surge o título em forma de brasão, sobre o casarão do título, em clara inspiração dos filmes da tradicional produtora Hammer. Essa imagem elegante e macabra, no entanto, nunca mais é rivalizada. Assim que chega o primeiro susto, construído como uma genérica jump-scare, a elegância é diluída. Pior ainda é ver que a barata técnica se repete até o limite, tornando o filme em uma experiência simplesmente irritante quando não é sonolenta.

É um péssimo sinal quando um terror é descrito como sonolento, especialmente tendo um set tão promissor. E até há momentos ligeiramente criativos em que os diretores usam o espaço da casa de maneira que o espectador se sinta tão perdido quanto o doutor, sem saber o que aguarda a cada canto. Contudo, há uma pobreza geral de ideias, que faz com que os Spierig apelem a situações repetidas e até mesmo cortes secos para os fantasmas, acompanhados de um alto estrondo. Por mais que tentem fazer com que o espectador pule da cadeira a qualquer custo, o tédio entre esses momentos acaba por ser o pior dos problemas do longa.

Seguindo uma linha semelhante a de filmes como O Despertar e A Colina Escarlate, as demais cenas diurnas procuram construir suspense nos diálogos entre os personagens, mas novamente falhando ao apostar na má e velha exposição narrativa. Nenhum dos fenômenos ou conceitos explicados por Mirren são evocados com eficiência a ponto de intrigar o público. Na verdade, são uma série de lugares-comuns do gênero empregados de maneira ainda mais medíocre na história. Isso é ainda mais decepcionante quando o embate final depende de um deus ex-machina, desconexo de qualquer lógica e estabelecido de maneira atrapalhada ao longo do último ato.

Por fim, a maior carência aqui é a de empolgação. Como apreciador dos criativos 2019 – O Ano da Extinção e O Predestinado, também dirigidos e escritos pelos Spierig, chega a ser inacreditável a falta de ambição da dupla tanto no fraquíssimo Jogos Mortais – Jigsaw quanto em A Maldição da Casa Winchester. Ter alguém como Helen Mirren para comandar seu elenco ou um set caprichado não é algo que acontece todo dia, e infelizmente tudo resultou em uma oportunidade perdida.


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Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.

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