Crítica: Jogos Mortais – Jigsaw

Crítica: Jogos Mortais – Jigsaw

Os mesmos Jogos Mortais de sempre

Com exceção de seu primeiro capítulo, os filmes da franquia Jogos Mortais nunca foram conhecidos como bom cinema. Com roteiros confusos, violência excessiva e um visual pouco caprichado, a série ainda assim encontrou um público fiel entre os fãs de terror. Pessoalmente, só gosto do primeiro e talvez até um bocado do segundo, mas nunca vi graça no resto.

Até que, em 2016, os irmãos australianos Spierig, que provaram seu talento na direção com os ótimos 2019 – O Ano da Extinção e O Predestinado, anunciaram seu trabalho em um oitavo filme de Jogos Mortais, naquele tempo intitulado como Legacy. Em 2017, com o título novo de Jigsaw, o longa finalmente ganhou um divertido trailer, com tom jocoso, na última San Diego Comic Con. Admito que fiquei empolgado.

Mesmo após sua fraca recepção crítica nos EUA, onde abriu há um mês, estava animado para uma boa diversão trash, com a pegada cômica sugerida no trailer e uma autoconsciência de quão absurda a franquia se tornou. A sinopse também intrigava: um grupo de pessoas está preso em um local desconhecido, onde devem sobreviver a… ahem, jogos mortais, enquanto a polícia investiga o aparecimento de diversos cadáveres em uma cidade, todas aparentemente dentro do modus operandi de Jigsaw (Tobin Bell), que já está morto há anos. Doido, né?

Ao finalmente assistir Jogos Mortais – Jigsaw, encontrei atuações inconsistentes, armadilhas implausíveis, reviravoltas mais ainda e uma noção de moralidade saída de um desenho animado. E isso tudo teria feito meu dia, caso os Spierig e os roteiristas Pete Goldfinger e Josh Stolberg não tivessem ido na direção contrária da divulgação e levassem o filme todo tão a sério.

Tom é um grande fator determinante para o funcionamento de um filme, seja ele B ou não. A série Premonição, por exemplo, se encerrou da melhor maneira, com um quinto capítulo que, além de investir em efeitos de ponta, reconhecia as possibilidades cômicas do seu conceito, proporcionando grande diversão. Jigsaw, por outro lado, repete o mesmo enredo repleto de falatório e motivações mal-explicadas dos últimos filmes da franquia, apenas com uma fotografia mais caprichada e, estranhamente, bem colorida. Há um ou outro momento bem-sucedido de tensão, esta que se perde quando os prisioneiros do assassino fazem uma escolha incrivelmente equivocada após a outra.

Outro problema está também na falta de foco narrativo: a insistência em deixar o ambiente em que se encontram as vítimas, duas interpretadas pelos competentes Laura Vandervoort e Paul Braunstein, para contar a história do desinteressante grupo de policiais que investigam as misteriosas ocorrências. Essa perspectiva sempre foi a mais fraca em todos os filmes da franquia, inclusive como foi com Danny Glover no capítulo de abertura. Aqui, no entanto, o lado policial da trama, além de contar com atores mais fracos, toma muito tempo e acaba se desdobrando de formas cafonas e exageradas, que por fim não combinam com toda a seriedade imposta pelo roteiro.

É difícil falar do problema seguinte sem dar spoilers, mas digamos que a plot twist final, marca registrada para a franquia, deixa muito a desejar, sem levar a história de Jigsaw para algum lugar novo ou fascinante. Até o empolgante tema composto por Charlie Clouser não impacta, inclusive por já ter se repetido pelo filme todo.

O  Jogos Mortais original funcionou principalmente por causa da direção inteligente de James Wan (Invocação do Mal 2) e o simples mistério construído no roteiro: dois homens se encontram confinados a um quarto, acorrentados e confusos, com apenas uma misteriosa voz lhes dando instruções e enigmas. Por isso mesmo, a atmosfera era, no geral, bastante ameaçadora e conseguia deixar o público de fato horrorizado. Isso foi se perdendo completamente assim que o restante da franquia contou com diretores bem menos capazes que Wan e uma violência eficientemente visceral, mas não psicológica.

Este ano tivemos diversos exemplares surpreendentes e subversivos do terror, como Fragmentado, Corra!, Jogo Perigoso e muitos outros.  Agora, com o filme de fantasmas Winchester marcado para estrear em Fevereiro de 2018, os talentosos Spierig podem compensar as oportunidades perdidas em Jogos Mortais – Jigsaw, no qual ficaram à mercê de um roteiro que, sem um senso de humor para acompanhar a trasheira, cai na autosabotagem. Dito isso, se você curtiu os capítulos 3 – 7 e não espera nenhuma inovação sobre a fórmula da franquia, então sabem exatamente o que vão encontrar. Querem jogar esse jogo?


Trailer

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.

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