Crítica: A Morte Te Dá Parabéns 2
Onde o passado e o presente se encontram, e se modificam
Após o sucesso de bilheteria de A Morte Te Dá Parabéns, a Blumhouse não demorou para emplacar uma sequência com a carismática Jessica Rothe no papel da jovem Tree Gelbman. Com alguns novos atores/personagens, e praticamente a mesma equipe técnica por trás do primeiro filme, A Morte Te Dá Parabéns 2 se mostra mais uma divertida produção sobre o clássico dia que se repete. Apesar da intenção arriscada em, sem cansar o espectador, trazer a mesma protagonista vivenciando tudo que já acompanhamos no filme anterior, a obra consegue manter seu envolvente suspense, com muita tensão e seus bons alívios cômicos.
Dessa vez, Tree descobre que a repetição dos dias foi causada por uma invenção científica de Ryan (Phi Vu), amigo de seu namorado Carter (Israel Broussard), que deveria funcionar como um experimento capaz de deixar o tempo mais lento, porém na verdade, cria ciclos em diferentes dimensões. Enquanto Tree tenta entender como voltou a reviver o dia de seu aniversário, e lida com uma realidade paralela onde algumas coisas parecem estar fora do lugar enquanto continua sendo ameaçada por um assassino mascarado, Ryan e seus amigos nerds tentam resolver o problema de sua invenção. No meio de tudo isso, a heroína ainda passa a ter dúvidas se prefere continuar a viver a partir o dia de seu aniversário, ou voltar ao presente, uma vez que seu coração se sente dividido entre as duas pessoas que mais ama.
Com o mesmo ritmo do filme anterior, o diretor Christopher Landon, que agora também assina o roteiro, recria os ambientes já conhecidos pelo público, e desenvolve uma história quase tão tensa quanto a do primeiro filme, mas com certeza mais emocionante e profunda, assim como a trilha musical do compositor Bear McCreary. Jessica Rothe continua ótima num papel cômico, e ao mesmo tempo desesperador. Esse desespero também dá espaço para que a atriz brinque com suas variadas expressões de ironia, enquanto se revolta com o fato de reviver tudo aquilo novamente.
Mesmo capaz de nos deixar tensos nos momentos certos, nos fazer rir em ocasiões aleatórias, e até de nós fazer chorar com cenas tocantes, A Morte Te Dá Parabéns 2 está longe de ser imperfeito. O filme continua utilizando de situações que jamais aconteceriam no mundo real, e não falo do fato do dia se repetir, mas da forma como Tree consegue escapar ou resolver seus problemas (incluindo escapar do assassino). Outros clichês de personagens também estão presentes, e casam com a proposta humorística do roteiro, mas decepcionam frente a variedade de possibilidades que o enredo tinha em mãos, de explorar o lado bom e ruim de cada um.
Provocando o público a pensar sobre nossos impulsos egoístas, a complexidade das relações amorosas, a confiança em nossas amizades e até inimizades, a narrativa do filme nos conquista da maneira mais sutil possível. Pode até ser por meio de estratégias já vistas no cinema, mas aqui são aplicadas para nos envolver em um recorte compensador da dificuldade de se conquistar (o que queremos), resolver (o que precisa ser resolvido) e se decidir (sobre quais caminhos devemos tomar). Como bem diz o refrão/título da música “Hard Times” (faixa incluída na soundtrack do filme) da banda americana Paramore, vivemos tempos cada vez mais difíceis. E talvez seja essa dificuldade, transvestida em humor, suspense e drama, o grande triunfo do filme.
Como já dito, a maior e mais deliciosa diferença entre o primeiro filme e essa sequência é o lugar que o suspense dá para os momentos dramáticos da obra. Abusando de contagens regressivas em grandes riscos, além de muitas corridas contra o tempo, a trama de A Morte Te Dá Parabéns 2 nos impressiona pela habilidade de manter-se fiel ao universo criado pelo seu antecessor, enquanto molda e amplia sua capacidade de nos emocionar, nos convidando a acompanhar a ousada e determinada Tree em mais uma aventura em busca de sua sobrevivência, e de seus amigos.