Crítica: Atômica
David Leitch se aventurou na direção pela segunda vez em Atômica. A primeira vez que trabalhou como diretor foi em John Wick (2014), mesmo não sendo creditado pelo trabalho em conjunto com Chad Stahelski. Ok, John Wick (tanto o 1º quanto o 2º) é um filme excelente e um dos melhores do gênero ação dos últimos anos – mas, mesmo assim, não é nada mal para Leitch ter Atômica em destaque como seu “primeiro” projeto. Agora também comandando a aguardada produção de Deadpool 2, o diretor está muito bem encaminhado em Hollywood e já provou que tem talento de sobra; principalmente quando se trata de histórias transbordando ação do início ao fim…
Atômica é aquele tipo de filme que vai te prender na cadeira de imediato. Como em toda boa e velha história de espionagem, sempre há aquela atmosfera tensa e misteriosa, intercalada hora e outra com momentos mais leves que vão acrescentando mais identidade à trama e reforçando seu tom de desconfiança.
A trama por si só já é motivo suficiente para qualquer fã de espiões comprar seu ingresso. Lorraine Broughton (Charlize Theron), uma das melhores agentes do MI6, é enviada para Berlim (após a queda do muro) a fim de recuperar um dossiê que está completo de nomes de agentes da União Soviética. Quando se encontra com David Percival (James McAvoy), o controverso chefe da estação local, Lorraine se vê no meio de um verdadeiro jogo de espiões.
A associação entre John Wick e Atômica é muito forte mesmo sem querermos que isso aconteça, pois em ambas as histórias temos dois protagonistas de peso e que conquistam nossa empatia – mesmo em meio à tanta pancadaria. Contudo, com Lorraine o desenvolvimento é mais profundo, principalmente pelo pano de fundo do roteiro ser a Guerra Fria, como também pelo fato da personagem ser a narradora da história que nos é apresentada. Inclusive, o uso de sua narração é excelente, pois em certo ponto vemos que nem mesmo a própria protagonista é 100% confiável.
Se John Wick foca na parte artística em todas as (incríveis) cenas de ação, Atômica foca na brutalidade das mesmas. Não que as sequências do filme não sejam belíssimas, mas com Lorraine vemos a degradação em cada cena de combate corpo a corpo, o que traz uma percepção ainda mais perto da realidade que vemos em John Wick. Ela realmente não tem medo de se sujar, medindo zero esforços para acabar com seus inimigos. Esperta, rápida e sem nunca perder a elegância, Lorraine sabe todos os riscos que corre com sua profissão, mas não deixa nada – e nem ninguém – impedir o andamento de seus planos.
O resultado é este: inúmeras cenas de embate que trarão brilho aos olhos dos amantes do gênero e, em especial, um plano sequência que definitivamente já marcou 2017 como um dos mais surpreendentes, tanto em técnica de filmagem (por mais que deva possuir um corte aqui e ali) quanto na atuação de Charlize Theron.
Mas chega de falar sobre Lorraine. Acima de qualquer coisa, nós temos ela: Charlize Theron! A atriz de 42 anos realmente deu tudo de si para viver a espiã badass, quebrando, inclusive, dois dentes durante os árduos treinos antes das filmagens. É realmente um deleite vê-la em tela, não só pela beleza como também (e principalmente) pelo modo “aconchegante” que deu vida à protagonista. Que Charlize já tem certa familiaridade em interpretar personagens confiantes e cheias de sensualidade nós já sabemos; mas com Lorraine ela teve o dom de se superar. Ao fazer seus próprios stunts e movimentos de luta, ela tornou sua atuação ainda mais poderosa.
Além de Charlize no carro-chefe, o elenco de apoio também está excelente. James McAvoy participou do filme logo depois de finalizar Fragmentado e entregou mais uma atuação dominada pela força em seus olhares e gestos. Sofia Boutella, que recentemente esteve nos cinemas em A Múmia, é uma personagem interessante, porém sem muito aprofundamento. No fim, o que acaba pesando é a química com Charlize, que está mais do que aprovada! John Goodman, Bill Skarsgård (o Pennywise!) e Toby Jones completam o elenco, mas o destaque vai para Skarsgård, que cativa bastante mesmo com pouco tempo em tela, fazendo de suas cenas as mais divertidas do filme.
Demarcado pela ótima direção, pelo roteiro com muitos níveis e uma direção de fotografia impecável, Atômica consegue ser ainda melhor por conta de sua trilha sonora. A música, quando utilizada de maneira bem pontual e acertada, provoca as mais sinceras reações no espectador e realmente dá aquele “algo a mais”. E é isso que acontece no filme quando basicamente todas as músicas são tocadas. De David Bowie a Queen, de Depeche Mode a ‘Til Tuesday: todas as canções foram escolhidas perfeitamente para cada tomada, fazendo até mesmo com que uma simples cena no metrô contenha mais emoção. Mesmo com uma ou outra repetição musical, o filme não dá o tempo de nos cansarmos de alguma faixa e logo troca para outra ainda melhor. A atmosfera apaixonante do longa tem muito o que agradecer às escolhas certeiras do diretor.
Atômica sabe utilizar e aproveitar cada um de seus artifícios já citados para entregar o melhor resultado possível. Em uma Berlim oitentista com cores marcantes e tomada pela suspeita a cada esquina, é importante prestar atenção em cada detalhe e estar pronto para a pancadaria ou algum plot-twist rolar. Acredite, você não vai querer perder nem um segundo!
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