Crítica: Bingo – O Rei das Manhãs

Crítica: Bingo – O Rei das Manhãs

Um filme que vem para reafirmar o orgulho que precisamos ter do cinema brasileiro

2017 está sendo um ano memorável para o nosso cinema e grandes obras estão se destacando independentemente de gênero, temática ou abordagem. O Rastro, O Filme da Minha Vida, Soundtrack, Divinas Divas, Malasartes marcaram a primeira metade do ano de uma forma extremamente positiva, mas ainda temos mais filmes para nos deixar impressionados. Bingo – O Rei das Manhãs, de Daniel Rezende, estreia em 24 de agosto após extenso trabalho de divulgação e com certeza será um dos longas brasileiros mais comentados dos últimos anos. Irreverente e nostálgico, emocionante e memorável, esse é um filme que deixará muitos cinéfilos impressionados.

Bingo – O Rei das Manhãs é inspirado na vida de Arlindo Barreto, artista que deu vida ao palhaço Bozo no SBT durante a década de 80. Em meio a outros apresentadores e outras emissoras (leia-se: Xuxa e Globo), Bozo conseguiu obter enorme destaque e é um dos ícones legítimos do entretenimento brasileiro. Ex-astro de pornochanchadas, Arlindo alcançou o sucesso rapidamente interpretando o palhaço, mas não lidou bem com a fama. Acabou se viciando em drogas e passou por vários problemas pessoais que refletiam ao vivo no palco, seu lugar favorito. No filme, com o nome de Augusto Mendes, Vladimir Brichta é quem dá vida a essa figura tão marcante.

A ideia de abordar uma história real sobre alguém que marcou a cultura do nosso país (apenas modificando alguns nomes aqui e ali) é absolutamente nostálgica por si só. Poucos filmes se apoiam na nostalgia sem pesar demais ou sem se desvirtuar da história como no trabalho de Daniel Rezende. É dentro dessa nostalgia que vemos a maior força de Bingo – O Rei das Manhãs, que não perde o fôlego até o fim e não só insere elementos do passado através do personagem-título, como também com lugares e pessoas. O querido Mappin dá as caras em uma bela tomada e até mesmo Gretchen, a única celebridade com nome real, tem sua participação na narrativa.

A primeira experiência na direção do montador indicado ao Oscar por Cidade de Deus é extremamente caprichada e virtuosa, sendo possível ver o imenso talento de Rezende através de planos-sequências fantásticos (principalmente em uma cena específica dentro do set de gravação). E é claro que o trabalho do diretor se estende até o elenco, que ajuda (e muito!) a tornar a experiência de assistir Bingo – O Rei das Manhãs a mais incrível possível. Vladimir Brichta está no papel mais poderoso de sua carreira e entrega nuances impecáveis para cada fase que seu personagem passa. Ele emociona, nos faz rir e nos passa empatia. Tanto o seu Bingo quanto o seu Augusto têm um toque único – de doce e sensível a agitado e feroz, é de trazer brilho aos olhos ver uma atuação com essa potência, seja como um pai carinhoso ou como um apresentador sem escrúpulos.

Ana Lúcia Torre, como a mãe também artista de Augusto, Leandra Leal, que vive a diretora do programa Bingo, e Augusto Madeira, como o amigo de trabalho (e festas sem limites) do protagonista, dão base a um elenco excepcional que merece todos os elogios possíveis. Além disso, também há espaço para o saudoso Domingos Montagner, que possui uma participação lindíssima como palhaço – profissão que, inclusive, marcou o início de sua carreira. Uma aparição muito bonita e que dá aquele tom ainda mais especial e íntimo ao filme.

Com produção da Gullane e uma longa estrada de desenvolvimento, Bingo – O Rei das Manhãs é um filme que funciona para diversos públicos, seja ele jovem ou adulto. Para uns, a nostalgia do que é exibido pode falar mais alto, quanto para outros, a qualidade irretocável em todos os aspectos da produção será completamente apaixonante.

Unir a cinebiografia sobre um artista com uma experiência nostálgica e cheia de humor ácido não é tarefa fácil, mas ela foi cumprida com maestria. Vocês não vão querer perder esse show!

Barbara Demerov

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