Crítica: Desculpe o Transtorno
Depois de estrear na direção com Qualquer Gato Vira-Lata e seguir com os longas Isolados e Operações Especiais, o diretor Tomás Portella volta a se aventurar no gênero comédia com o filme Desculpe o Transtorno, estrelado por Gregório Duvivier, Clarice Falcão e Dani Calabresa.
Na verdade, não é condizente dizer que o filme se encaixa somente como uma comédia, pois o enredo entrega vários elementos de drama e romance também. Logo no início, a história nos apresenta ao personagem Eduardo (Duvivier) ainda aos 7 anos, e que, apesar de ter tido uma infância alegre, vive um drama familiar onde os pais estão prestes a se separar. O pior de tudo é que caberá a ele, uma criança, escolher com quem vai morar a partir daquele dia: o pai, que vai para São Paulo, ou a mãe, que mora no Rio de Janeiro. Traumatizado, Eduardo acaba indo viver com seu pai (Marcos Caruso) e forma uma vida completamente certinha. Já adulto, o vemos trabalhando com o pai em uma empresa de patentes e em um relacionamento sério com a controladora Viviane (Calabresa). Quando um acontecimento trágico o leva de volta para o Rio, Eduardo se reencontra com “Duca”, o outro lado de sua personalidade que se perdeu com o trauma que sofreu na infância.
O transtorno de Eduardo/Duca não é tão trabalhado, mas ele é usado como uma metáfora na história; uma metáfora que nos mostra que as pessoas devem encontrar um equilíbrio entre seu passado e presente para viver bem com elas mesmas. E a personagem que ajuda o protagonista nesta aventura de redescobrimento é a carioca Bárbara (Falcão). Passando por Freud, Dostoiévski – e… Wikipédia -, os dois vão ajudando um ao outro e, durante a aproximação imediata, um sentimento começa a surgir. O problema é que Duca gosta de Bárbara e Eduardo se sente preso à Viviane, e este contraste de personalidades e vidas é o principal conflito da narrativa. Eduardo precisa ir além e parar de decidir apenas “uma coisa ou outra”, mas sim o que realmente quer de sua vida para, enfim, tomar o rumo que o deixe plenamente feliz.
A fotografia do filme é um elemento que vale destacar. O cinema brasileiro já abordou as diferenças entre Rio e SP, como no filme Ponte Aérea, e aqui não foi diferente: os ambientes de cores cinza, enquadramentos certinhos e em travelling ficam para São Paulo, enquanto o Rio de Janeiro é exibido com cores vivas, muito sol e com a câmera na mão do diretor.
O elenco de apoio de Desculpe o Transtorno é outra parte positiva do filme e é o que agrega o toque de comédia à história. Rafael Infante, Luis Lobianco, Julia Rabello e Marcos Veras (todos fizeram ou fazem parte do Porta dos Fundos) fazem participações divertidas e que deixam a trama bem leve.
Por mais que a história se baseie em estereótipos mais do que conhecidos por todo mundo (como o paulista workaholic e o carioca tranquilão, o que transparece certa ‘mesmice’), Desculpe o Transtorno vale o ingresso porque contém um elenco bem entrosado, possui uma história que carrega uma mensagem poderosa e inspiradora e, principalmente, porque mostra que o cinema brasileiro tem tudo para ir além da comédia e está melhorando cada vez mais.
FICHA TÉCNICA
Direção: Tomás Portella
Roteiro: Adriana Falcão
Elenco: Clarice Falcão, Gregório Duvivier, Dani Calabresa
Gênero: Comédia/Romance
Ano de produção: 2015
Duração: 80 minutos
Classificação: 12 anos