Crítica: Em Retirada
Este filme faz parte da programação oficial da 41ªMostra Internacional de Cinema em São Paulo.
O subgênero do thriller de sobrevivência está mais que repleto de exemplares. Alguns favorecem a ação, como Limite Vertical, outros flertam com o íntimo, como em 127 Horas, e outros ainda mesclam o entretenimento com emoções maduras, como A Perseguição. Em Retirada, dirigido pelos irmãos Alex e Andrew Smith, encaixa-se na segunda categoria e ainda assim desafia expectativas.
O enredo, inicialmente, soa óbvio. Um garoto (Josh Wiggins) vai passar um tempo com o pai (Matt Bomer) em remotas montanhas, para caçar alces. Há a obrigatória sucessão de pequenos erros nos minutos iniciais, que sugerem um conflito no horizonte. Nada de novo aqui: um acidente acontece e os dois se encontram em uma tensa situação de vida ou morte.
No entanto, se a viagem é previsível, seu significado, conforme o filme avança para seus minutos finais, traz uma carga emocional bastante surpreendente, comunicada com sutileza pelo roteiro e as duas ótimas interpretações centrais. Ótimas mesmo: Matt Bomer aqui encara um papel fora de seu tipo, um sujeito rígido e não muito acostumado a expressar suas emoções (sabe-se que o papel seria de Christian Bale, mas felizmente o britânico o negou e Bomer, então, teve a chance de se provar); Wiggins, por sua vez, constrói a transformação de seu personagem com bastante naturalidade, inclusive tendo que carregar seu co-protagonista nas costas, literalmente.
Em Retirada também conta com grande beleza estética. A fotografia de Todd McMullen valoriza a clareza das florestas nevadas de Montana, fazendo contraste com os flashbacks que vem em tons mais pardos. As lentes utilizadas também ajudam a ampliar o senso de escala que o espectador tem, ainda que numa história que é focada inteiramente no íntimo de seus dois protagonistas. A música de Ernst Reijseger, por sua vez, prova quão rico pode ser o uso de cordas, inclusive reinterpretando melodias operáticas, e o resultado é, no mínimo tocante. McMullen e Reijseger, então, acertam ao buscar a beleza no inóspito, fugindo da hostilidade comum ao gênero homem vs. natureza.
Com base em um conto de David Quammen, os diretores Smith encontram certa dificuldade em sustentar o interesse na narrativa pelo menos até um pouco antes do primeiro momento de tensão, mas acertam em cheio ao evitar artifícios desnecessários de história, apostando em algo mais verossímil e sutil. Por isso mesmo, quando Em Retirada chega a seu destino final, as emoções são sentidas de maneira honesta e até mesmo dolorosa. Afinal nenhuma boa história de crescimento deveria ser indolor.
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