Crítica: Estás Me Matando Susana
Quando o amor vira obsessão
“Se amas, deixa-a livre. Se ela não voltar, vá atrás”. Esta frase, integrante do material de divulgação de Estás me Matando Susana, é o mote do longa-metragem dirigido por Roberto Sneider, inspirado no livro Ciudades Desiertas, de José Augustín.
Certa manhã, Eligio (Gael García Bernal) acordou de sonhos – ainda não se sabe se intranquilos – e percebeu que Susana (Verónica Echegui), sua esposa, havia partido sem deixar explicações, bilhetes ou justificativas. Só com o passar do tempo o ator soube que ela havia saído da Cidade do México com destino a uma faculdade em Iowa (EUA), onde faria uma oficina literária para alcançar o sonho de se tornar uma escritora.
Após lidar com o receio de entrar em contato com Susana, Eligio decide ir de mala e cuia até a universidade onde ela decidiu passar uma temporada, sem sequer avisá-la. Esse é o ponto de partida para uma comédia conceitualmente romântica, mas que se revela uma comédia de erros com elementos de suspense psicológico graças à obsessão do personagem por ela.
Se o filme tivesse sido concebido a partir da perspectiva de Susana, a narrativa seria sobre uma mulher que não aguentou mais lidar com a maneira imatura com a qual o marido encarava a vida e decidiu correr atrás do sonho, mas se deparou com uma visita dele sem o menor aviso e ficou em dúvida se lhe daria uma nova chance ou pediria uma ordem de restrição por causa do comportamento descompensado dele. Todavia, como o argumento é de acordo com a trajetória dele, as atitudes insanas dele são encaradas com verniz bem-humorado.
Para começar, as cenas em que ele coloca o pé na estrada para ir atrás dela (ou persegui-la), assim como a hilária passagem em que ele foge de um taxista estadunidense racista no campus da universidade, têm trilha sonora acelerada, flertando com o punk, que remete a momentos de catarse na trama. Outro momento cômico é a confusão que ele arruma no aeroporto, já nos EUA, durante a inspeção feita com pessoas vindas de outros países.
Enquanto Susana e Eligio estão em uma espécie de encontros e desencontros ora afetivo, ora logístico, alguns elementos extraconjugais vêm à tona para apimentar a história, com destaque para Slawormir (Björn Hlynur Haraldsson), interesse não exatamente amoroso de Susana em solo estadunidense e nêmesis de Eligio, e Irene (Ashley Hinshaw), cuja dinâmica com o protagonista na trama é inesperada.
A fotografia do longa é outro ponto de destaque. Além de delimitar fatores climáticos e geográficos na trama – luz mais quente na Cidade do México e imagens mais frias nas passagens em Iowa -, o elemento tem como função evidenciar as transições comportamentais de Elígio: nos EUA, o seu lado, digamos, sombrio acaba sendo evidenciado na narrativa.
Ainda que haja momentos inegavelmente impagáveis, com direito até de voyeurismo – um doce para adivinhar de quem – e emoções à flor da pele, Estás me Matando, Susana pode ser encarado como um drama ou como uma comédia de erros dependendo do ponto de vista. De qualquer modo, a dinâmica em cena entre Gael García Bernal e Verónica Echegui é, ao lado da narrativa ágil e envolvente, um dos bons destaques do filme.
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