Crítica: Host

Crítica: Host

Este filme constitui uma tradução perfeita da expressão “all thriller, no filler”. Em apenas 55 minutos de rodagem, o diretor e roteirista Rob Savage constrói o contexto das personagens, cria um ambiente de tensão, faz gags e foreshadowings, e embala a produção com ótimos sustos. Por estes motivos, Host é uma pequena joia dentro de seu gênero. 

Em Host, um grupo de amigas decide realizar uma sessão mediúnica via Zoom, mas acabam enfrentando consequências devastadoras. Esta é a trama. Não há mais nem menos para a história que Savage, em co-autoria com Gemma Hurley e Jed Shepherd, evoca de restante nos pequenos detalhes de cada uma das personagens.

Rodado durante a pandemia, Host tem o novo coronavírus como um de seus elementos de fundo, mas sequer cogita apoiar-se nele para criar tensão adicional. Não há desejo algum de se elevar pelo elemento de novidade que o contexto da produção traria: um filme de terror no qual as personagens devem realizar os mesmos ritos adicionais que o público.

Há de fato um reconhecimento de tais ritos de pandemia, inclusive determinadas sequências ganham uma ressonância extra por implementá-los, mas Savage nunca demonstra guiar-se por eles. Tanto que uma das únicas gags recorrentes tem a ver não com o contexto pandêmico, mas sim com a repetição de um termo específico (plano astral).

Uma simbologia que poderia ser traçada, no entanto, está no uso das máscaras. Por motivos narrativos que não estragarei aqui, elas são um tema recorrente em Host, seja nos filtros digitais que certas personagens usam (algo que é resgatado muito bem), seja no jogo de aparências que se desenrola desde o início da sessão mediúnica que as personagens realizam juntas.

Existem aqui os habituais “furos” que um longa do formato traz à dianteira: porque as personagens levam seus computadores consigo a todos os cantos? Porque convenientemente apontam a câmera para a frente, como se estivessem rodando um vídeo na primeira pessoa? Nenhuma destas perguntas é respondida, mas podemos compreender as decisões. 

Há, em Host, um palpável anseio de participação, de fazer parte, vindo de seu elenco de jovens. A mesma curiosidade que as une em uma sessão mediúnica é o que concretiza seus infelizes destinos, cada um realizado de maneira razoavelmente criativa por Savage. Nenhuma das personagens cogita abandonar a chamada via Zoom em qualquer momento. Por quê? 

Portanto, na mente das personagens, a disponibilidade se iguala à sobrevivência. Existe um senso de que o tempo de tela é o que poderia salvá-las, embora seja justamente o que leva a mais problemas. Este conceito ainda é deliciosamente subvertido com uma das personagens e seu pano de fundo, e ao final o limite de tempo se torna um artifício importantíssimo (chamadas gratuitas via Zoom possuem um limite de 40 minutos).

Host é um experimento fascinante dadas as circunstâncias. Um segundo a mais ou um segundo a menos, o filme de Rob Savage poderia se auto-sabotar. Mas do jeito que é, entrega exatamente o que se deseja e abre o apetite para mais produções do tipo. É uma sólida demo para um jovem cineasta atento às tendências de seu público. 

Disponível na Netflix.

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.