Crítica: Mindhunter (2ª temporada)
Entre o pessoal e o profissional
O clima investigativo que Mindhunter soube construir muito bem durante sua primeira temporada a colocou facilmente no posto de uma das melhores séries da Netflix. Os roteiristas e produtores parecem ter proposto um desenvolvimento de segunda temporada que valoriza muito do que já nos foi apresentado, mas organizando subtramas de uma forma diferente e menos dinâmica que é facilmente sentida pelo espectador após dois ou três episódios da nova temporada. Podendo dividir os gostos do público ou não, é um fato que mais interessantíssimas histórias de assassinatos nos aguardam.
Ainda no fim dos anos 70, os agentes Holden Ford (Jonathan Groff) e Bill Tench (Holt McCallany), com a ajuda da agente Wendy Carr (Anna Torv) e do apagado porém esforçado Gregg Smith (Joe Tuttle) continuam a desenvolver suas pesquisas sobre o comportamento de assassinos compulsivos a fim de traçar perfis e facilitar investigações. Dessa vez, após a aposentadoria de Shepard (Cotter Smith), os agentes se encontram sob uma a administração de um novo e renomado chefe, Gunn (Michael Cerveris), um visionário e impressionantemente dedicado diretor que acredita nos frutos do desenvolvimento da pesquisa dos agentes.
Em sua nova temporada, a atmosfera sugestiva se mantém, porém a trama elaborada em torno dos personagens explora bem mais a vida pessoal dos investigadores, com exceção de Holden, que parece estar sempre mais focado nos objetivos profissionais. Wendy passa a se relacionar com uma bartender, enquanto Bill enfrenta cada vez mais dificuldades com sua família e principalmente em seu relacionamento com seu filho Brian. As entrevistas com famosos serial killers ainda se fazem presentes e acrescentam muito à história com realismo e ótimos diálogos. Dessa vez os agentes entrevistam nomes como David Berkowitz e até Charles Manson, enquanto são chamados para auxiliar em uma investigação local de Atlanta, onde diversos garotos entre 11 e 17 anos começam a desaparecer.
Mindhunter continua bem em sua proposta de retratar o início das investigações de assassinos compulsivos por meio de perfis e comportamentos, expondo muito bem inclusive o preconceito de policiais e departamentos para com seus ideais (até então não utilizados). As conversas de diálogos rápidos e ideias arremessadas também ainda funciona. Porém a forma como a série estrutura os arcos de seus personagens e os divide em nove episódios deixa a desejar. Muito do dinamismo da primeira temporada que já não era tão digerível) se perde em meio a uma confusão de tramas que pouco se amarram. Como por exemplo o assassino misterioso da primeira temporada, que é quem parece dar as cartas para o desenvolvimento do enredo durante os primeiros episódios dessa segunda temporada, acaba sendo totalmente descartado pelo roteiro para dar lugar à uma outra investigação. Sem falar que suas aparições se tornam bem menos frequentes do que durante a primeira temporada.
Embora esse vai e vem de vidas pessoais e profissionais dos personagens se emaranhem em uma teia confusa, nos mantemos presos com nossas atenções fixadas na condução de pesquisas e busca por pistas dos agentes. Conforme os mesmos passam a descobrir mais sobre um possível suspeito dos assassinatos das crianças, a história passa a ganhar mais vida e a seguir um caminho satisfatório de suspense. Sobram questionamento sobre a insegurança e a falibilidade de cada agente, enquanto se questionam sobre o que procuram e ambicionam de verdade tanto no FBI quanto na vida.
Mindhunter é uma produção cautelosa que não se sente pressionada em ser dinâmica ou trazer tiroteios e uma grande quantidade de investigações. É baseada no realismo dos eventos e nas dificuldades de se cumprir uma única missão que sua trama vai se desenrolando. Aos poucos sentimos as angústias que os personagens sentem ao serem questionados pelos familiares dos desaparecidos, ou ao terem suas ideias impedidas pela burocracia sempre presente. Como previsto, a série novamente deixa migalhas de assuntos inacabados para atiçar os fãs e forçar uma nova temporada, que só podemos esperar ansiosos, enquanto roemos as unhas.