Crítica: O Preço da Verdade

Crítica: O Preço da Verdade

Mensagem importante, entrega protocolar

A recente minissérie Chernobyl, produzida pela HBO, causou impacto no público mundial ao relembrar a história de um dos mais trágicos desastres ambientais do século XX, responsável por contaminar milhares de pessoas e abreviar suas vidas. Se aquele foi um fato ocasionado por uma combinação de negligência e irresponsabilidade, a história retratada em O Preço da Verdade, ocorrida em solo norte-americano, consegue ser ainda mais revoltante.

O filme estrelado por Mark Ruffalo acompanha a luta de um advogado para fazer a gigante DuPont, uma das marcas mais poderosas dos EUA, assumir as consequências de décadas de intoxicação silenciosa numa comunidade da Virgínia Ocidental. É uma trama de Davi x Golias nos tribunais, que guarda semelhanças com produções da virada entre os anos 90/2000, como A Qualquer Preço, protagonizado por John Travolta em 1999, e o eletrizante Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento, que rendeu o Oscar para Julia Roberts em 2001.

Ruffalo, que na vida real é um proeminente ativista da causa ambiental, se entrega completamente ao papel de Rob Billot, profissional do direito que trabalhava para defender os interesses da multinacional e mudou de lado quando conheceu o caso dos fazendeiros cujas propriedades e organismos estavam sendo destruídos pelos efeitos químicos da DuPont.

Como o filme deixa claro, foi um processo difícil e arrastado, marcado pela desconfiança até da própria cidade, construída em torno da fábrica, a principal fonte de emprego da região. Billot vai aos poucos sendo tomado pela paranoia, enquanto o stress também prejudica sua  saúde. É o tipo de personagem movido pelo idealismo, envolvido numa luta contra tudo e todos sem garantia de sucesso, que atores adoram interpretar. O desempenho de Ruffalo, completamente à altura do desafio, é o grande destaque do longa.

Já a assinatura de Todd Haynes em O Preço da Verdade é quase imperceptível. O cineasta que sempre prezou pelo visual original de suas obras (ele tem no currículo Velvet Goldmine, Longe do Paraíso, Não Estou Lá, Carol, para citar os trabalhos mais famosos) joga aqui dentro do padrão do gênero. O tom é sempre extremamente sóbrio, até mesmo frio, seja nas cenas nos escritórios de advocacia ou na gélida região onde moram as vítimas. É o que se espera de um filme com assunto tão delicado, mas, mesmo assim, fica-se com a impressão que qualquer outro diretor faria algo parecido.

O mesmo pode ser dito de Anne Hathaway. Relegada ao papel da esposa Sarah, ela alterna momentos de apoio ao marido com outros em que o cobra pela ausência da vida familiar, conforme a conveniência do roteiro. Ainda que a atriz faça o que possa, não deixa de ser uma forma de subaproveitar uma das grandes estrelas de Hollywood. 

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil