Crítica: O Predador
Excesso de humor e de personagens torna tensão e presença da criatura elementos secundários no filme
Trinta e um anos depois de sua primeira aparição nos cinemas, O Predador está de volta, no quarto filme da franquia, sem contar os dois derivados Alien vs Predador. O monstro alienígena descoberto numa selva da América Latina por soldados norte-americanos ataca a Terra novamente, agora numa produção que aumenta a dosagem de humor até o limite, ofuscando muito da tensão.
Desde que Deadpool surgiu para combinar piadas e violência bruta, muitos têm tentado repetir a fórmula. A escolha do cineasta Shane Black para comandar a continuação teve este objetivo. Afinal, o autor sempre se destacou pelos elementos de comédia que colocou em seus trabalhos, desde os roteiros de Máquina Mortífera até o recente Dois Caras Legais (2016), longa anterior como diretor.
Trabalhando com uma estrutura grandiosa e orçamento generoso, Black não se conteve e acabou pecando pelo excesso. Prova deste exagero é o elenco inchado. Além do herói principal Quinn McKenna (Boyd Holbrook, de Narcos e Logan), há a trupe de desajustados que o acompanha, formada por Nebraska Williams (Trevante Rhodes, de Moonlight), Coyle (o comediante Keegan-Michael Key), Baxley (Thomas Jane), Lych (Alfie Allen, de Game of Thrones) e Nettels (Augusto Aguilera). Cada um deles tem sua própria característica: um solta palavrões o tempo todo, por sofrer de síndrome de Tourette, outro faz truques de mágica, e assim por diante…
Como se não fosse suficiente, a trama ainda coloca no meio da ação a bióloga Casey Brackett (Olivia Munn, de X-Men: Apocalipse), o antagonista Traeger (Sterling K. Brown, da série This is Us) e uma criança com sintomas de autismo (Jacob Tremblay, de O Quarto de Jack e Extraordinário). Diante deste batalhão de protagonistas, o Predador – ou melhor, os Predadores, já que são mais de um, incluindo alguns em formato de cachorros anabolizados – viram quase coadjuvantes em seu próprio filme.
Para tornar tudo mais frustrante, o clímax descarta boa parte dos personagens numa sequência filmada na escuridão, sem que seja possível ver direito o que está acontecendo.
No meio de tanta fumaça, elementos pontuais do roteiro como a discussão sobre as criaturas caçarem humanos por esporte ou necessidade, além de uma referência ao problema do aquecimento global como causa da invasão, são apenas sugeridos e nunca desenvolvidos. O final ainda dá a entender que, no fundo, os monstros podem querer ser nossos amigos, mesmo que não fiquem claro os motivos para isso.
Como todo blockbuster que preze, O Predador se segura nos momentos de adrenalina e quando lança mão dos efeitos especiais. Porém, a discrepância entre o tom de trash sanguinário com uma aventura familiar à la Spielberg torna o resultado bastante irregular.