Crítica: Para Todos os Garotos que Já Amei
Embalada em formato convencional, comédia simboliza triunfo dos introvertidos
Comédias românticas adolescentes normalmente tratam de jovens deslocados – frequentemente vítimas de bullying por parte da turma dos populares de seu colégio – que acabam dando a volta por cima e ganhando a aprovação de quem até então os desprezava. No caso de Para Todos os Garotos que Já Amei, filme original da Netflix, não há ninguém que faça mais a protagonista Lara Jean (Lana Condor) se sentir um patinho feio do que ela mesma.
De tão introvertida, a menina tem o costume de escrever cartas aos garotos por quem se apaixona, mas nunca enviá-las. Ela é perita também em imaginar situações românticas e nunca vivê-las de fato na vida real, e não é mera coincidência que seu primeiro namoro seja apenas um jogo de aparências. Fechada em seu casulo e vivendo à sombra da irmã mais velha, Lara vai aprender que não dá para se esconder para sempre.
Quando tais cartas são postadas e chegam aos destinatários, é como se seus sentimentos fossem expostos pela primeira vez: de forma desajeitada, com resultados confusos, mas um ato que pode ser recompensador.
Como se vê, a trama do filme tinha elementos capazes de o diferenciar de outros exemplares do gênero. Porém, a condução da diretora Susan Johnson pouco foge ao convencional.
Visualmente, o longa é igual a tantos outros que se passam no mesmo ambiente. Planos protocolares de quartos juvenis, corredores escolares, festas e a lanchonete da região. Falta uma personalidade própria que faça a história de Lara Jean ser mais marcante, assim como certo vigor aos diálogos. Não há a mordacidade de Quase 18, por exemplo, ou o despojamento de tratar questões acerca da sexualidade de forma natural, como Com Amor, Simon ou o nacional Ana e Vitória.
Talvez essa falta de uma preocupação conceitual ou cuidado estético seja consequência do modelo Netflix, que despeja rapidamente títulos em seu catálogo sem se importar em dar tempo para maturação e lapidação de projetos. É uma linha de produção audiovisual em massa, pura e simplesmente, mesmo que para a engrenagem funcionar seja mais fácil reciclar fórmulas antigas.
Em Para Todos os Garotos que Já Amei, por exemplo, a ideia das cartas, tão importantes para a premissa, é estranhamente esquecida depois de vinte minutos. Abre-se espaço para um previsível romance entre a protagonista e um de seus antigos “crushes”, o que traz ao enredo uma incômoda sensação de dejá vu.
O longa cresce perto do final, quando fica mais claro o amadurecimento de Lara Jean. Brilha então o carisma de Lana, atriz até então famosa apenas por ser a mutante Jubileu em X-Men: Apocalipse, que mostra muita desenvoltura em seu primeiro papel principal. Mesmo assim, o desfecho convencional acaba dando razão a quem for taxar a comédia de “fofinha e só”,