Crítica: Shazam!

Crítica: Shazam!

Gente como a gente

critica shazam!

“Se você pudesse escolher entre voar e ser invisível, o que escolheria?”. Não precisa ser fanático por quadrinhos para já se ter feito essa pergunta pelo menos uma vez na vida. Ela está no roteiro de Shazam!, quando o jovem entusiasta da cultura geek Freddie Freeman (Jack Dylan Grazer) propõe a questão a Billy Batson (Asher Angel), sem saber que logo o garoto terá superpoderes à disposição.

O filme é o mais próximo que o Universo Cinematográfico DC já esteve do mundo real, justamente por se centrar em personagens com os quais você poderia esbarrar na rua a qualquer momento, pelo menos enquanto o protagonista não diz a palavra mágica. Freddie é como muitos membros do público: veste camiseta com o logo do Aquaman, tem itens do Superman e do Batman em seu quarto. Cabe a ele ser a ponte entre espectadores e o herói do título, interpretado por Zachary Levi.

Assim como Levi confessou em entrevistas pouco saber sobre Shazam antes de ganhar o papel, seu personagem passa boa parte do filme aprendendo a como lidar com os poderes que herda de um misterioso mago ancestral (Djimon Hounsou).

As semelhanças entre ator e herói não param por aí. Em todas as aparições públicas que tem feito desde que foi escalado, incluindo a passagem pela CCXP brasileira, Zachary Levi demonstrou o mesmo entusiasmo da figura que encarna na tela, com aquele jeito “criança adulta”. Pode até ser jogada de marketing, mas funciona para estabelecer o carisma da produção como algo genuíno e palpável, um bom tanto mais despojada que qualquer outro lançamento recente da DC.

Se não guarda semelhanças com os longas de seus parceiros de estúdio/editora, Shazam! é parente próximo de Homem-Aranha: De Volta ao Lar, pelo clima adolescente e o ambiente escolar como cenário fundamental. Outra inspiração que o filme não faz questão de esconder é Quero Ser Grande, admitida explicitamente numa cena que homenageia a clássica sequência do piano gigante na loja de brinquedos.

Até quando precisa ser grandiloquente, como o clímax num parque de diversões, o longa nunca perde sua vocação de ser uma história de identidade, amizade e união.

Numa época em que ter efeitos especiais espetaculares e boas cenas de ação são apenas o arroz com feijão em filmes como esse, o tempero extra fica por conta justamente deste componente “pé no chão”. Afinal, aqui há um herói que, antes de salvar o mundo, precisa encontrar seu lugar nele.

Diego Olivares

Crítico de cinema, roteirista e diretor. Pós-graduado em Jornalismo Cultural. Além do Cinematecando, é colunista do Yahoo! Brasil