Crítica: Homem-Aranha: De Volta ao Lar

Crítica: Homem-Aranha: De Volta ao Lar

Homem-Aranha: De Volta ao Lar não é um filme comum. Toda a espera e todo o hype já provam o quanto ele é importante. Por isso, já estão aparecendo diversas comparações com Homem-Aranha 2, que todo o mundo nerd sabe que é um dos melhores filmes de super-heróis de todos os tempos. Porém, no meu ponto de vista, em certos casos não dá para entender essa coisa de já sair comparando um filme com o outro porque cada obra é um trabalho individual, não importa se ambas dividem o mesmo “universo”. Nada contra, mas por mais que Homem-Aranha 2 seja sensacional, De Volta ao Lar não abre espaço para falarmos tanto dele. Não mesmo.

Não vejo sentido em falar sobre Aranha 2 dentro de um filme como De Volta ao Lar. São propostas completamente diferentes, a começar pelo fato de que Peter Parker, no filme de 2004, já vestia seu uniforme há mais de dois anos e tinha aprendido que grandes poderes traziam grandes responsabilidades. Já o Peter Parker de Tom Holland ainda não aprendeu isso. E também há outro detalhe importante que difere ambos: o filme de Sam Raimi entra muito na questão do quanto o Homem-Aranha já influencia a vida de Peter, enquanto o novo longa, que marca a união da Sony com a Marvel, é um filme sobre Peter Parker e o início de sua grande jornada com seu alter-ego. A origem do herói que vemos em De Volta ao Lar não é com a picada da aranha radioativa ou com a perda de seu tio, mas sim com a ingenuidade e força de vontade que o jovem de 15 anos esbanja sem muito esforço. Você nunca viu um Peter Parker como nesse filme… isso eu posso garantir!

De Volta ao Lar funciona bem como (mais uma) história de origem, mas não anula os outros cinco filmes do teioso. Essa história provavelmente será considerada a definitiva pois, finalmente, o personagem mais querido da Marvel (pelo menos para mim) integrou o universo dos Vingadores, Guardiões da Galáxia e por aí vai. E isso já vemos logo no início com a apresentação do vilão de Michael Keaton, Adrian Toomes, na época da batalha de Nova York – a primeira que mostrou ao mundo que os aliens existiam. Keaton é um homem comum e ameaçador ao mesmo tempo (bem como afirmou Tom Holland na coletiva de imprensa no Brasil) e quer provar seu valor vendendo armas produzidas por ele e seus capangas com materiais recolhidos das guerras dos Vingadores, mesmo que isso seja por baixo dos radares de Tony Stark, o homem que lhe tirou seu emprego na época da batalha. A motivação do vilão Abutre é precisa e se conecta bem com Os Vingadores (2012), além de ser ótima para o enxergarmos como uma pessoa que realmente pode ameaçar e machucar nosso protagonista. Mérito para Keaton, que, assim como eu esperava, personificou um antagonista de peso para um filme que significa muito ao mundo nerd.

Enquanto Toomes crescia com suas armas poderosas, Peter Parker era apenas uma criança, e mesmo oito anos após a Batalha de Nova York, ele ainda tem apenas 15 anos – mas já conta com seus poderes para ajudar as pessoas e também com a experiência na Guerra Civil para se orgulhar. A ideia de De Volta ao Lar se passar dois meses após a Guerra Civil foi uma ótima cartada por várias razões, principalmente porque vemos a esperança e insistência de Peter em se tornar um Vingador. Como falei no início do texto, este é um filme sobre Peter, então essa esperança até pode soar um tanto presunçosa em alguns momentos, mas dá para entender o lado dele. Afinal, que jovem de 15 anos não ficaria extremamente animado após ganhar um uniforme completo de Tony Stark e de ter “roubado” o escudo do Capitão América?

Peter nerd e cientista, Peter inseguro e indeciso, Peter corajoso e destemido, Peter apaixonado e preocupado. É admirável como vemos tantos lados do personagem em um só filme. E mais admirável ainda é como Tom Holland trabalha bem todas as nuances, conseguindo atingir um nível extremamente satisfatório como o amigão da vizinhança. É possível nos relacionarmos com quase tudo que ele passa, especialmente nos momentos na escola… esses sim são os melhores! O que se destaca como ouro em De Volta ao Lar é que o filme aborda mais Peter Parker se conhecendo para, enfim, abraçar seu alter-ego. Essa parte de autoconhecimento + ambiente escolar entrega um resultado geral que não só reverencia o cinema de herói como também o cinema de John Hughes, diretor que marcou a questão da adolescência no cinema. Inclusive, no filme de Jon Watts existe até uma referência de Curtindo a Vida Adoidado que rendeu altas risadas na sala de imprensa. Outra observação curiosa é que um dos roteiristas do filme é John Francis Daley, de Freaks & Geeks, série cult que se passa aonde? Em uma escola.

O elenco de apoio do longa é excelente, tão bom quanto Tom Holland e sua segurança no posto de protagonista. Laura Harrier, Jacob Batalon e Zendaya possuem boas cenas e ajudam a representar a parte mais inocente e humana de Peter. É preciso lembrar que, no fim do dia, Peter Parker não é nada mais que uma criança – mesmo que esconda isso em palavras e atitudes. O Homem-Aranha ainda está em treinamento e não há nada de errado nisso. Como já disse antes, Michael Keaton brilha muito e de uma maneira que não ofusca o protagonista – pelo contrário, ambos têm uma cena em especial que me deixou de boca aberta em termos de atuações e química (claro que a boa direção de Watts ajudou bastante). E claro, Tia May, interpretada por Marisa Tomei, ganha uma nova roupagem e aparece bem mais descontraída do que estávamos acostumados nos filmes anteriores. Peter e May não possuem tantas cenas juntos como eu gostaria, mas durante todo o tempo em que está em tela, Marisa Tomei nos ganha pelo carisma.

A ação de marketing para promover De Volta ao Lar foi certeira, e eu confesso que estava receosa por ter visto muito Tony Stark nos trailers e pôsteres. Mas felizmente a divulgação até chega a enganar sobre as circunstâncias da participação de Tony na história. Esse não é um filme sobre Homem de Ferro ou Vingadores, e a dose que vemos do “chefe do estágio” de Peter é mais como alguém que quer lhe ensinar algo, o que facilita muito para sentirmos empatia pelo protagonista. Ainda sobre a divulgação do filme, é ótimo ver que todo o terceiro ato e alguns detalhes importantes da trama realmente foram deixados de fora. Um plot twist em especial deixa tudo ainda melhor!

Para os fãs mais ávidos de quadrinhos, já imagino o quanto ficarão felizes ao ver um lado de Peter que não havia sido trabalhado de forma tão abrangente até hoje. O ótimo roteiro do longa não deixa pontas soltas e insere várias situações sem cansar ou deixar a narrativa mais lenta. O ritmo instigante se mantém ao longo das duas horas e tudo fica cada vez mais divertido de acompanhar. Por fim, o filme que marca a entrada do amigão da vizinhança ao Universo Marvel aproveita para deixar bem clara essa questão não somente com a presença de Robert Downey Jr., como também com Jon Favreau e seu personagem Happy (que já estava fazendo falta!). Muito divertido ver a relação de ambos com Peter e em como ela evolui para algo ainda mais animador no final.

Homem-Aranha: De Volta ao Lar é o filme que milhões de fãs estavam esperando e muito mais. Se esse é o melhor Homem-Aranha do cinema, não sei dizer, mas que esse é o melhor Peter Parker até agora, isso sim. Vale o ingresso, vale a pipoca, vale a animação e o brilho nos olhos. O título De Volta ao Lar significa muito mais que a volta de Peter para casa após a luta com os Vingadores: para a legião de fãs, ele também significa o retorno do amado personagem à Casa das Ideias e o início de um futuro empolgante. Finalmente, nosso herói está em casa!

Direção: Jon Watts
Roteiro: Stan Lee, Steve Ditko
Elenco: Abraham Attah, Angourie Rice, Bokeem Woodbine, Donald Glover, Garcelle Beauvais, Gwyneth Paltrow, Hannibal Buress, Jacob Batalon, Jon Favreau, Kenneth Choi, Laura Harrier, Logan Marshall-Green, Marisa Tomei, Martin Starr, Michael Chernus, Michael Keaton, Michael Mando, Robert Downey Jr., Selenis Leyva, Tom Holland, Tony Revolori, Tyne Daly, Zendaya
Produção: Amy Pascal, Kevin Feige
Fotografia: Salvatore Totino
Montador: Dan Lebental, Debbie Berman
Trilha Sonora: Michael Giacchino
Duração: 133 min.

Barbara Demerov

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