Crítica: Star Wars – O Despertar da Força

Crítica: Star Wars – O Despertar da Força

São tempos incríveis para os fãs de Star Wars. O sétimo episódio da saga, O Despertar da Força, estreou dia 17 de dezembro marcando o início de um cronograma de filmes que engloba uma nova trilogia e vários spin-offs, incluindo um filme sobre Han Solo e outro sobre Boba Fett. Quem poderia imaginar que teríamos um filme por ano sobre o universo Star Wars? Pelo menos até 2020, essa será a nossa realidade.

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Em 2012, ano que a Disney comprou a Lucasfilm por 4 bilhões de dólares, já haviam anunciado que, em 2015, o mundo assistiria ao Episódio VII da saga Star Wars. As reações foram mistas pois a notícia realmente pegou os fãs de surpresa. Por mais que existissem livros, jogos de videogame, animações e quadrinhos que compunham o Universo Expandido da saga, a história de Darth Vader e Luke Skywalker, criada por George Lucas, já estava encerrada para muitos. Mas a curiosidade definitivamente era unânime, e a impressão era a de que 2015 demoraria mil anos para chegar. Só que a Disney fez um trabalho de mestre com a divulgação de O Despertar da Força nesses três anos que se passaram entre o anúncio e o filme, tornando a espera bem mais empolgante. Logo anunciaram que o filme se passaria trinta anos após os eventos de O Retorno de Jedi (1983). Posteriormente, os teasers e trailers mostravam cenas lindas, personagens nunca antes vistos, mas nada do enredo. Por consequência, teorias foram surgindo: Kylo Ren na verdade é Luke Skywalker? Finn é o Jedi? Rey é filha de Leia e Han? Mas o que mais intrigou a mente dos fãs foi o fato de Luke Skywalker não aparecer em nenhum material de divulgação. A única coisa que apareceu em um dos teasers foi sua mão biônica. Tudo fez parte de uma inteligente jogada de marketing que conseguiu aumentar a ansiedade do público. E tudo isso, é claro, resultou em um filme grandioso e surpreendente, já que os produtores deixaram muitas cenas importantes por fora dos vídeos. Ainda bem!

J. J. Abrams, criador da série Lost, já dirigiu dois filmes de outra saga interestelar, Star Trek, e também um longa que é mais uma homenagem à ficção científica dos anos 80, Super 8. Sem esconder de ninguém que ama Star Wars tanto quanto os fãs, ele aceitou o desafio de prosseguir com a franquia de quase quarenta anos e fez seu trabalho de maneira honesta e fiel. Em O Despertar da Força, vemos tamanha dedicação do diretor e da Lucasfilm até nos pequenos detalhes: utilizando muitos efeitos práticos, sem depender apenas dos efeitos especiais, a impressão é muito mais realista e nostálgica, principalmente em cenas no planeta Jakku. Para quem ama e cresceu com Star Wars, como eu, são os detalhes que mais emocionam.

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O mais interessante é que, em O Despertar da Força os detalhes não se apegam apenas aos efeitos, eles se estendem até o enredo. Com a parceria de Lawrence Kasdan (roteirista dos episódios V e VI) na construção da história, é certo dizer que Abrams optou por seguir alguns caminhos que se encontram na trilogia clássica, capturando a magia inicial. Já nas primeiras cenas é possível observar algumas poderosas referências de Uma Nova Esperança (1977).

Como já estava explícito, Luke (Mark Hammil) realmente está desaparecido. Depois da queda de Darth Vader e do Império, uma nova organização chamada Primeira Ordem surgiu para dar continuidade aos objetivos do lado sombrio. O jedi é procurado tanto por eles quanto pela Resistência, liderada por Leia, sua irmã.

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A heroína da vez, Rey (Daisy Ridley) é, em diversos aspectos, uma nova versão de Luke: mora em Jakku, planeta semelhante a Tatooine, e espera dia após dia a volta de sua família. É independente e busca sucatas entre os destroços de guerras passadas para obter mantimentos. Certo dia, encontra um andróide, BB-8, que carrega uma mensagem importante. É simplesmente impossível não lembrar da frase “Help me, Obi-Wan Kenobi, you are my only hope”, que R2-D2 levava consigo como parte de sua missão no Episódio IV.

Em pararelo a isso, temos Finn (John Boyega) um stormtrooper da Primeira Ordem que não vê sentido nos mandamentos que são impostos pelos vilões General Hux (Domhnall Gleeson) e Kylo Ren (Adam Driver), um cavaleiro do Lado Negro da Força que planeja seguir os passos de Vader. Acima deles está o Líder Supremo Snoke (Andy Serkis, mais uma vez com uma performance por computação gráfica), personagem cheio de mistério que provavelmente ganhará mais destaque nos próximos episódios.

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É surpreendente como Rey e Finn, dois personagens novos, se aproximam do público sem muito esforço. O carisma de ambos os atores é incontestável, tanto pela presença heroica de Rey como pela empatia e humor de Finn. E também há Poe Dameron (Oscar Isaac), talentoso piloto da Resistência que está ótimo em todas as cenas que aparece. Mas quem rouba a cena é o androide carismático BB-8; assim como a dupla C-3PO e R2-D2, ele não é somente o alívio cômico perfeito como também é importante para a narrativa evoluir. E, completando a nova geração de personagens, estão Gwendoline Christie como a stormtrooper Capitã Phasma e Lupita Nyong’o como Maz Kanata, outra personagem desenvolvida por computação gráfica. O cuidado de J. J. Abrams ao introduzir tais personagens pode ser comparado com o de George Lucas em relação às figuras da prequela, como Padmé Amidala, Obi-Wan, Qui-Gon-Jin e o próprio Anakin Skywalker.

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Em relação aos personagens clássicos, apenas uma palavra define: nostalgia. Han Solo (Harrison Ford), a princes… opa, general Leia (Carry Fisher), Chewbacca (Peter Mayhew), C-3PO (Anthony Daniels) e R2-D2 (Kenny Baker) são personagens que já emocionam por simplesmente estarem lá. Ver o nosso contrabandista favorito em sua querida Millennium Falcon é muito especial, assim como vê-lo com Leia. E outra figura que é mais do que importante em todos os filmes de Star Wars é o compositor John Williams, que traz emoção a cada música, seja ela já conhecida ou não.

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No geral, o filme entrega muitos fatos promissores. Só existe um aspecto no qual ele se distancia do Episódio IV: o de deixar mais dúvidas do que respostas. No filme de 1977 o espectador tinha uma sensação de desfecho, mesmo que aquele tenha sido apenas o começo da saga Star Wars. Em O Despertar da Força, J. J. deixou um grande caminho aberto, com muitos mistérios a serem resolvidos. E quem sofrerá até maio de 2017? Eu, você e todos os fãs, afinal: como a Primeira Ordem surgiu e obteve esse domínio imenso em apenas trinta anos? Por que Jakku é tão importante? Por que o C-3PO está com um braço vermelho? Bem, existem muito mais perguntas do que essas, mas eu prefiro não escrever spoilers aqui. Quem já assistiu também deve estar com dez ou mais dúvidas na cabeça. A solução é esperar e torcer para que Rian Johnson, diretor do Episódio VIII, equilibre bem os acontecimentos e as consequências do filme de J. J. Abrams. Ele com certeza já deve saber que expectativa está alta, ainda mais depois do final… Ah, aquele final!

FICHA TÉCNICA
Diretor: J.J. Abrams
Elenco: Harrison Ford, Mark Hamill, Carrie Fisher, Adam Driver, Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Lupita Nyong’o, Andy Serkis, Domhnall Gleeson, Anthony Daniels, Kenny Baker, Max von Sydow, Peter Mayhew, Gwendoline Christie, Ken Leung, Greg Grunberg
Roteiro: J.J. Abrams, Lawrence Kasdan, Michael Arndt
Fotografia: Daniel Mindel
Trilha Sonora: John Williams
Produção: Bryan Burk, J.J. Abrams, Kathleen Kennedy
Duração: 136 minutos
Estúdio: Bad Robot/Lucasfilm

Barbara Demerov