Crítica: Star Wars – Os Últimos Jedi

Crítica: Star Wars – Os Últimos Jedi

Rian Johnson tomou decisões com Os Últimos Jedi – para o melhor ou para o pior?

Falar de um filme tão esperado quanto Star Wars: Os Últimos Jedi apenas horas após vê-lo é difícil. E isso é, no geral, algo bom, pois saí do cinema sobrecarregado de emoções, muitas positivas e algumas negativas. Sinal de que Rian Johnson, diretor e roteirista excepcionalmente criativo, tomou seus riscos como deveria. Ao encerramento da sessão, pude observar alguns fãs extasiados e outros profundamente decepcionados, o que me leva à conclusão de que a ideia de uma sequência perfeita, que renove seu cânone e também honre suas raízes, é no mínimo nebulosa.

Uma das maiores reclamações quanto ao capítulo anterior, O Despertar da Força, era direcionada às inúmeras semelhanças de seu enredo ao que já foi visto em Uma Nova Esperança. Felizmente, Os Últimos Jedi não segue a cartilha de O Império Contra-Ataca, por melhor que este fosse. Vemos nesse novo filme alguns dos mesmos personagens e conceitos, porém de uma perspectiva diferente. As noções de bem e mal, Rebeldes e Império, Jedi e Sith, são praticamente estilhaçadas a serviço de uma narrativa mais intrigante, embora inconsistente.

Ao final do Episódio anterior, vimos Rey (Daisy Ridley, Assassinato no Expresso do Oriente) cara a cara com Luke Skywalker (Mark Hamill), e neste filme os dois seguem uma dinâmica esperada de professor e aluna. No entanto, não é uma relação tão atenuada, afinal há muito o que discutir sobre o passado dos dois e também sobre Kylo Ren (Adam Driver, Logan Lucky), ex-aprendiz de Skywalker que se tornou peça chave para a Primeira Ordem, que procura resgatar a força imperial após a perda da base Starkiller no longa anterior.

Rey ainda luta com as tentações do lado negro da força, assim como Skywalker vive o dilema entre treinar a jovem ou dar um fim aos Jedi de uma vez por todas. Já Kylo segue como a figura mais interessante da nova trilogia, mas não entrarei em maiores detalhes sobre sua participação na trama.

Uma pena que o restante do elenco não ganhe arcos igualmente interessantes, como Finn (John Boyega, Sonhos Imperiais) e a estreante Rose Tico (Kelly Marie Tran) em sua missão em Canto Bight ou Poe Dameron (Oscar Isaac, X-Men: Apocalipse) e suas tentativas de burlar regras da Resistência e salvar o dia. A General Leia (Carrie Fisher) tem seus momentos mas ainda fica de escanteio, enquanto a almirante Holdo (Laura Dern, Big Little Lies) gera uma boa primeira impressão sem ganhar muito desenvolvimento. Estão todos ótimos em seus papéis, mas infelizmente ficam na função de preencher lacunas.

O roteiro escrito por Rian Johnson traz uma boa dose de mistério e tensão, enquanto sua direção valoriza os visuais suntuosos sem se perder da substância narrativa que mantém a franquia firme e forte. Há novidades também na construção do mundo, agora muito menos podada nas noções de bem vs mal que regiam os filmes anteriores e introduzindo algumas áreas moralmente cinzentas de seu universo, como o comércio que alimenta a guerra entre Rebeldes e Primeira Ordem. As interações entre Rey, Luke e Kylo Ren também refletem essa maior profundidade psicológica pretendida para os novos capítulos, o que certamente aumenta o interesse no enredo.

Seu maior problema, no entanto, se encontra na estrutura adotada, inicialmente intercalando os diferentes arcos narrativos em intervalos consistentes para no ato final deixar certos personagens completamente de lado por longos períodos de tempo. O ritmo atrapalhado acaba gerando um estranhamento e também tornando a batalha final no planeta Crait mais maçante do que deveria ser.

Se até agora parece que não apreciei o filme, é porque muitas das maiores qualidades de Os Últimos Jedi podem ser consideradas como spoilers ou pequenos detalhes que podem diluir a sensação surpresa constante que faz do filme algo maior que a soma de suas partes.

Falo então do que não é spoiler: Os Últimos Jedi conta com valores de produção de fazer cair o queixo, superando-se nos sets (especialmente o cassino em Canto Bight e a sala do trono do Supremo Líder Snoke) e no uso de efeitos especiais, sejam eles digitais ou práticos (porgs e outras criaturas animatrônicas!). A batalha que abre o filme impressiona, e há uma certa luta no início do 3º ato que pode muito bem ser uma das visualmente mais belas na franquia Star Wars até hoje (quando virem, saberão).

Mas a ação também deixa a desejar em diversos momentos. Faltam duelos com sabres de luz e sobram batalhas aéreas/espaciais pouco distinguíveis entre si, problema que também se deu em O Despertar da Força. Embora não ache o spin-off Rogue One um ótimo filme, seu departamento de ação era fortalecido por uma batalha final que, além de grandiosa, impactava com sua execução pé-no-chão. Por isso mesmo, os momentos mais empolgantes de Os Últimos Jedi são também os menos excessivos, resgatando as qualidades da trilogia original de Star Wars.

O que definirá sua experiência com Os Últimos Jedi, acima de tudo, são as (arriscadas?) escolhas narrativas. Há diversas surpresas, e algumas vão inevitavelmente dividir os fãs, portanto o recomendado é ir ao cinema com uma mente aberta e expectativas moderadas. Pessoalmente, esperava mais de um filme de Rian Johnson, que roteirizou e dirigiu os surpreendentes e criativos Na Ponta de um Crime, Os Vigaristas e Looper – Assassinos do Futuro.

No entanto, Star Wars: Os Últimos Jedi consegue ser, se não o melhor, o mais interessante dos novos capítulos da saga, justamente por apresentar novas possibilidades à franquia e dar continuidade à trágica história do icônico Luke Skywalker, mesmo que de uma maneira imperfeita. Mas esta é minha opinião. Dê uma chance ao filme e descubra a sua!


Trailer

Caio Lopes

Formado em Rádio, TV e Internet pela Faculdade Cásper Líbero (FCL). É redator no Cinematecando desde 2016.