Crítica: Tel Aviv em Chamas
Os 12 trabalhos de Salam
Tel Aviv em Chamas, novo longa do diretor palestino Sameh Zoabi, parte de uma realidade específica mas pode se enquadrar muito bem naquilo que alguns chamam de “filme de exportação”, feito quase que sob encomenda a um olhar estrangeiro curioso e habituado a obras mais moduladas de acordo com a cartilha hollywoodiano. O tema central pode ser político, mas se encontra dentro de uma estrutura que evoca uma realidade familiar ao público ocidental, retratando entre outras coisas a produção de uma telenovela e todo o processo de criação envolvido com um senso de humor – só um pouco – mais sutil que aquele visto em Os Picaretas ou Artista do Desastre.
Zoabi se utiliza desta proposta para espelhar tensões geopolíticas conhecidas na relação de duas personagens: Salam (Kais Nashef), o roteirista palestino que se encarrega dos diálogos em hebraico na novela Tel Aviv em Chamas e logo recebe a responsabilidade de escrever os capítulos finais da badalada atração, e Asi (Yaniv Biton), um militar israelense encarregado de vigiar a fronteira entre Jerusalém e Ramallah que descobre a relação de Salam com a novela e passa a exigir do roteirista diversas alterações no encaminhamento de sua trama, a troco de sua passagem entre as duas cidades. Para Salam, então, há mais em jogo do que apenas o futuro de sua carreira na televisão.
Esta trama, no entanto, acaba acometida por alguns exageros e eventos que parecem incluídos apenas para torná-la mais apetitosa ao mercado hollywoodiano, o que acaba por criar algumas incongruências no percurso de um longa que, até então, surpreendia pelo tom razoavelmente contido – até mesmo o humor se mantinha adequado à realidade da profissão de Salam durante o desenvolvimento, prometendo soluções muito mais audaciosas do que aquelas que de fato recebemos ao final. Além disso, há a decisão de incluir um núcleo amoroso para Salam e uma paixonite dos tempos de infância que se inicia e se resolve da maneira mais cômoda e previsível.
Porém mesmo que deixe a desejar como reflexão política e comédia romântica, Tel Aviv em Chamas ao menos constitui um conto envolvente sobre os limites do controle criativo, indagando através dos obstáculos enfrentados por Salam sobre o contato inevitável entre arte e realidade, e como o indivíduo criativo pode contornar estas limitações ou, em último caso, fazer um balanço entre o que lhe é exigido e aquilo que é de sua intenção. Quando analisa esta relação de Salam com seu trabalho hercúleo, a obra de Zoabi soa mais provocadora do que de fato é com suas resoluções finais, que diferente de Salam, não parecem inclinadas a tomar qualquer risco criativo.