Crítica: Tesnota
Drama russo mostra protagonista tentando encontrar seu lugar em território hostil
É necessário um contexto histórico para entender por completo Tesnota, filme de Kantemir Balagov que teve passagem pela seção Um Certo Olhar do Festival de Cannes, em 2017, de onde saiu com o título de melhor filme segundo a FIPRESCI, a associação de jornalistas estrangeiros.
O longa se passa numa região do interior russo dominada pelo povo cabardino, grupo étnico do norte do Cáucaso. É lá que a família judia da protagonista Ilana (Darya Zhovner) se instalou, seguindo sua rotina de mudanças constantes. Ela vive um romance proibido com um rapaz cabardino, enquanto seus pais insistem para que se case com um dos judeus de sua comunidade.
Este cenário fica ainda mais hostil para Ilana quando seu irmão é sequestrado ao lado da noiva. Enquanto as famílias tentam encontrar uma maneira de pagar o resgate, a sensação de isolamento da personagem central só aumenta. Sem encontrar conforto em casa, ela vaga por locais inóspitos, como se quisesse encontrar um lugar ao qual pertencer. Num determinado ponto, vai a uma reunião de amigos do namorado e assiste a uma fita VHS com execuções reais, momento que gerou certa controvérsia ao filme entre o público dos festivais por onde passou.
Como indica o título que Tesnota ganhou ao ser lançado no mercado internacional (foi batizado de “Closeness”, algo como “proximidade”, em português), Balagov filma sempre de perto seus personagens e sem grandes variações de cores nos cenários ou figurinos, mostrando como a junção de tensões históricas e pressões familiares pode ser asfixiante para sua heroína errante.
É um nó que prende Ilana a contra gosto, representado pelos abraços amedrontadores da mãe (Olga Dragunova), que mais sufocam do que apaziguam.