Crítica: The Cloverfield Paradox
Novo filme da franquia Cloverfield fica perdido no espaço
Bom… pelo menos o marketing foi bacana? Em um movimento planejado pela Netflix e a Paramount, The Cloverfield Paradox foi lançado hoje apenas horas após seu anúncio no Super Bowl LII, e a oportunidade de ver um esperado filme com tanta rapidez aparentou incrível. No entanto, a empolgação de qualquer um deve desaparecer já lá pela metade de seus 102 minutos, quando se percebe que, além do hype, The Cloverfield Paradox tem pouquíssimo a oferecer.
A história pelo menos começa intrigante. Em meio a uma crise de energia e tensões políticas que podem levar a uma guerra mundial, uma equipe de cientistas é enviada ao espaço para descobrir uma forma de salvar a humanidade. Para isso, fazem uso de um acelerador de partículas, que pode gerar uma quantidade infinita de energia. Porém, a equipe então passa anos tentando ativar a engenhoca, e quando finalmente conseguem, são imediatamente transportados a uma realidade paralela, onde as coisas não parecem ser mais as mesmas.
O elenco inclui nomes de peso: Gugu Mbatha-Raw (San Junipero), Daniel Brühl (Capitão América: Guerra Civil), David Oyelowo (Selma), Elizabeth Debicki (Guardiões da Galáxia Vol. 2), Chris O’Dowd (The IT Crowd) e alguns outros. Como personagem central, Raw faz o que pode, fortalecendo o arco emocional da protagonista que, por sua vez, já é bastante superficial. Por outro lado, Brühl e Oyelowo estão apagados em papéis unidimensionais, O’Dowd tenta mas falha como alívio cômico e Debicki, por fim, confere à sua coadjuvante misteriosa uma presença levemente ameaçadora, o que por outro lado acaba justamente entregando suas intenções precocemente.
Apesar de contar com o aval de J.J. Abrams e uma equipe experiente por trás das câmeras, já é aparente desde o início que The Cloverfield Paradox carece de algo a mais em seus aspectos técnicos também. A direção do desconhecido Julius Onah é competente porém básica, com escolhas de plano e movimentações de câmera que não fedem nem cheiram. A fotografia de Dan Mindel (Star Trek), por sua vez, é exatamente o que se espera de uma produção da Bad Robot, com ângulos inclinados e uma predominância do azul, só que desta vez com poucos usos de lens flare. Já a montagem (feita por três pessoas) procura dar um ritmo desnecessário ao suspense, impedindo que cada momento de tensão seja devidamente construído, enquanto a trilha sonora de Bear McReary (Rua Cloverfield 10) parece emular os trabalhos de Michael Giacchino com eficiência de mais e originalidade de menos.
Contudo, o grande problema de The Cloverfield Paradox é sem dúvidas o roteiro. Assinado por Doug Jung (Star Trek: Sem Fronteiras) e Oren Uziel (Shimmer Lake), o material claramente se perdeu entre as intenções de ser seu próprio filme isolado ou uma sequência para o primeiro filme de 2008, dirigido por Matt Reeves. Preso a esse dilema eterno, Paradox deixa de ir a fundo nos dois casos, sendo tanto um genérico thriller espacial que mistura Alien e Interestelar como também um insatisfatório retorno ao universo do gigante monstro do longa original. Há quem se empolgue com as teorias e os momentos mais bizarros e escatológicos, como o braço que “anda” separado do corpo ou as minhocas que ressurgem em um lugar inesperado, porém nada disso parece tão crucial à trama, que por vezes parece funcionar no modo aleatório.
The Cloverfield Paradox é meramente uma oportunidade perdida. Caso fosse lançado nos cinemas, seria um fracasso de público quase certo, com uma execução tediosa que traz o infame Quarteto Fantástico de Josh Trank à mente. Tiro um chapéu, então, para sua estratégia de marketing, que deve ter reconhecido as fraquezas do produto e encontrado a melhor maneira de fazê-lo render. Só espero que a Netflix não se torne um asilo frequente para projetos mal-fadados e esquecíveis como esse.
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