Crítica: The Perfection
Sinfonia de sangue
No primeiro dos quatro atos de The Perfection, um jogo de sedução entre as protagonistas Charoltte (Alisson Williams, de Corra! e da série Girls) e Lizzie (Logan Browning, da série Dear White People) garante a alta voltagem. No segundo, um certo caráter escatológico vem à tona, com menções a vômitos e diarreias, entre outras coisas. O terceiro vai no ritmo de thriller psicológico e, mais perto do final, o filme mostra sua vocação para o terror gore enquanto escancara sua mensagem alinhada a tempos de #MeToo.
Se você ficou com a impressão que o longa é uma miscelânea de gêneros e alegorias, é por aí mesmo. A mistura de tantos elementos é ao mesmo tempo a virtude e o pecadilho da produção, que por um lado nunca se mostra totalmente coesa, mas por outro garante reviravoltas em doses suficientes para segurar a atenção de quem assiste.
A trama começa com Charlotte saindo do isolamento no qual viveu após uma década cuidando da mãe doente. De volta ao ambiente que havia deixado para trás, vai à procura dos antigos professores de música e da jovem que lhe roubou o status de prodígio do violoncelo, Lizzie. Sua intenção não é clara, e a interpretação de Williams sabe utilizar isso muito bem, com gestos retraídos e braços muitas vezes cruzados, em sinal deste fechamento para o mundo exterior.
Ao escolher como cenário inicial diferentes partes da China, The Perfection também ganha em ambientação, principalmente durante a sequência em que as duas personagens partem numa viagem pelo interior do país interior, em que o fato de serem estrangeiras num território inóspito aumenta a tensão da situação.
Da segunda metade em diante, o clima muda para a claustrofobia, com os mistérios do que ocorre entre as quatro paredes da Escola de Música Bachoff (trocadilho sem vergonha com a expressão “Back off”, ou “sai fora”, em tradução livre) sendo revelados.
O cineasta Richard Shepard, mais habituado a trabalhos na TV e que quando vai para o cinema gosta de dirigir obras um tanto quanto esquisitas (como as comédias de humor negro O Matador e A Recompensa), aqui flerta com o terror no estilo “filme B”.
Sem procurar nenhum refinamento maior, The Perfection oferece algo cheio de imagens explícitas (exceção ao sexo entre as duas atrizes, talvez para não ser acusado de fetichista) e um recado politicamente correto para lavar a alma de quem tem sede de sangue na arena das discussões sobre machismo e abuso de poder na indústria das artes. Durante seus noventa minutos de duração, está de bom tamanho.